Manifestação pedagógica


Por Guilherme Arêas

29/04/2017 às 07h00

As manifestações de ontem apontaram para a insatisfação generalizada com o Governo Temer por conta não apenas do projeto de reformas que ele tenta implementar, como as da Previdência e trabalhista, mas também pela forma como chegou ao poder. Já se passaram meses do impeachment, mas ainda há fortes resíduos de indignação que ora se verbalizam. Faz parte da democracia, pois somente por seu intermédio é que é possível aferir a posição das ruas, mas é preciso, também, levar em conta o teor da paralisação. As reformas, ora colocadas em xeque pelos manifestantes e por lideranças sindicais, especialmente, são necessárias para o país. O atual modelo trabalhista e a formatação previdenciária foram vencidos pelo tempo. A CLT carece de profundas mudanças, e a Previdência, se nada for feito, corre o risco de não ter meios de se sustentar no futuro.

Todo projeto é passível de negociação, e é o que está sendo feito no Congresso, fórum qualificado para efetivar as mudanças, mas muitos dos incômodos, que ora chegam na rota dos protestos, são resultado de desconhecimento público do que, de fato, está em jogo. O fim do imposto sindical, ou sua migração para o modelo opcional, não chegou à opinião pública, mas é um tema relevante, que até mesmo centrais sindicais de forte envolvimento com suas categorias questionam. O Brasil é recordista de sindicatos, muitos deles sem qualquer envolvimento com os seus filiados, mas beneficiados pelos recursos repassados pela contribuição dos trabalhadores.

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Mas o lado pedagógico da manifestação está preservado. O Governo e o Congresso já não podem mais agir à sombra, como foi próprio de outros tempos em que a população não tinha acesso a informações. Hoje, por meio das redes sociais, os temas transitam com velocidade de tempo real. Há, é fato, o lado perverso da manipulação, mas o próprio Governo e os parlamentares precisam, por sua vez, mostrar a cara e explicar, em detalhes, o que estão fazendo e quais são as consequências.

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