Lista viciada
O voto em lista, a bola da vez no debate que se desenvolve no Congresso, é uma alternativa viável para países com democracia consolidada e dispostos a fortalecerem, de fato, os partidos. O modelo estabelece que o eleitor, em vez de nomes, escolhe legendas, cabendo a estas formar suas listas de candidatos a serem eleitos pela ordem. O Partido dos Trabalhadores defende esse modelo, mas já não tem a certeza de outros tempos, quando o viés ideológico era o único motor que o movia.
O problema, hoje, é outro. Os congressistas optam pela lista pelo mesmo motivo que senadores e deputados buscam saídas para o “salve-se quem puder” estabelecido pela operação Lava Jato. Não pretendem oxigenar a vida política do país, hoje eivada de vícios. Buscam imunidade para o que vem pela frente com a liberação dos depoimentos dos delatores da Odebrecht.
Hoje, lamentavelmente, os partidos não são confiáveis, sobretudo por não terem programas de governo, e sim estatutos que mais parecem confrarias, em que os membros se aproveitam do mandato.
As listas serão ocupadas no topo pelos caciques, muitos deles já indiciados e outros tantos prestes a serem chamados para prestar contas. O eleitor, dessa forma, estará apenas dando alforria para tais personagens, pois votará nos partidos sem saber, de fato, quem estará escolhendo, ao contrário de hoje, quando o voto é pessoal, mas capaz de eleger desconhecidos graças às coligações proporcionais. Trata-se, é fato, de um modelo com problemas, que poderiam ser resolvidos pela lista se não fossem as más intenções de seus novos defensores.
O Congresso tem que fazer a reforma política, pois sabe que o atual modelo já não se ajusta aos novos tempos, mas precisa, antes de tudo, dar transparência ao que está sendo discutido, sob o risco de ficar no mesmo lugar. Enquanto prevalecer o espírito de corpo, esse impasse vai permanecer, pois a opinião pública já não se comporta passivamente ante tantos descalabros.