À mercê do tempo
Embora tombado, por ser um espaço histórico, prédio da antiga Delegacia Regional de Ensino está abandonado, sem qualquer perspectiva de recuperação
A ação de despejo de moradores em situação de rua, nessa quarta-feira, na antiga sede da Delegacia Regional de Ensino, no Bairro Mariano Procópio, aponta para duas situações que precisam ser discutidas na cidade. A primeira – e nesse caso o debate e as ações já estão em curso – é o aumento de pessoas ocupando as ruas. Diga-se, de passagem, que se trata de uma questão nacional, sobretudo nas metrópoles. A pandemia e os impasses econômicos ampliaram a indigência.
A segunda questão – e essa carece de ação do Estado – é a situação do prédio que já foi uma referência na cidade, retratando uma época de pujança econômica da Manchester Mineira. Hoje, embora tombado, é um espaço degradado, à mercê da ação do tempo, que dia após dia compromete cada vez mais as suas instalações.
O grave desse enredo é que não há indícios de qualquer projeto para a sua recuperação, o que, aliás, demanda tempo. Os Grupos Centrais, na Avenida Rio Branco, esquina com a Rua Braz Bernardino, só tiveram a sua recuperação implementada na gestão do governador Romeu Zema. Até então, eram meros discursos eivados de promessas que nunca saíram do papel. A obra deve ser concluída no ano que vem.
Além do viés histórico, o prédio da antiga Delegacia Regional de Ensino, se recuperado, pode ser ocupado por serviços públicos, muitos deles à mercê de aluguéis. O espaço é amplo, e o prédio está localizado numa região importante, próxima às principais vias da cidade.
É necessário que a instância política, especialmente, alerte o Governo sobre a situação do local e cobre a sua recuperação. Do jeito que está, a ação de ontem será apenas temporária, pois, brevemente, os sem-teto voltarão a ocupá-lo, como já ocorre em alguns pontos da cidade. A título de ilustração, o monumento às Forças Armadas, no Largo do Riachuelo, também passou recentemente por um processo de desocupação. Hoje, já está, de novo, na mesma situação de antes.
Se por um lado o drama da população em situação de rua é uma demanda permanente da sociedade, por não ter uma solução simples nem de curto prazo, sobretudo enquanto houver impasses econômicos e sociais, a recuperação de próprios públicos depende única e exclusivamente de vontade política dos dirigentes e do seu entorno.
A Tribuna já fez diversas reportagens sobre o espaço, alertando para o cenário de degradação, mas nada foi feito, como se fosse uma causa menor do município. Ledo equívoco, pois, além de tudo, o prédio está no entorno de um dos maiores – senão o maior – patrimônios históricos da cidade, o Museu Mariano Procópio. Recuperá-lo, pois, será a complementação da tão esperada conclusão do museu, que também leva anos passando por vários mandados e ainda sem data para a sua plena reabertura.