A importância da política
Candidatos que se elegeram com discurso apolítico terão que refazer seus conceitos, pois, após o mandato, estão no mesmo patamar
Em 2016, quando foi eleito para o seu primeiro mandato de prefeito de Belo Horizonte, o empresário e ex-presidente do Atlético Mineiro Alexandre Kalil teve como mote de campanha o papel de realizador e apolítico, isto é, um personagem apartado dos partidos que até então ficaram à frente do Executivo municipal. Dois anos depois, o também empresário Romeu Zema entrou na disputa com um discurso diferente de seus adversários, também se mostrando como realizador.
De fato, ambos tiveram sucesso nas suas carreiras, especialmente o governador, dono de uma rede de lojas e de postos de gasolina, hoje passados à frente, mas que fizeram dele um personagem independente de repasses públicos de qualquer ordem. No dia 3 de outubro, estarão frente a frente disputando o comando do Estado, mas, desta vez, não poderão repetir o discurso inaugural de seus mandatos: ambos, agora, são políticos.
Kalil já absorveu a ideia ao articular acordos com outras legendas, especialmente o Partido dos Trabalhadores. Não abriu mão do candidato ao Senado, mas tirou do páreo o presidente da Assembleia, Agostinho Patrus, para dar espaço para um de indicação petista. Zema, por sua vez, ainda encontra problemas na articulação para a escolha de seu vice. O Novo, seu partido, ainda resiste à ideia de ter uma chapa híbrida, embora as evidências apontem para a necessidade de alianças. Esse impasse deve ser resolvido na convenção, quando os nomes serão oficializados.
O discurso apolítico faz sentido quando se trata a política como uma mazela – o que tem acontecido nos últimos anos em vários fóruns, e por conta dos maus exemplos apresentados em diversas instâncias. Não é de hoje que há em curso um debate global contra os políticos, por conta de suas inações e de propostas voltadas para o próprio umbigo. Quando os jovens, especialmente, foram às ruas em 2013, estava em jogo uma pauta difusa, mas com foco central na necessidade de uma nova política, marcada, sobretudo, pela ética do mandato.
Esse discurso provocou mudanças abissais pelo mundo afora, com eleição de salvadores da pátria, mas é fundamental discutir a necessidade da política. É por ela que se fazem transformações. O eleitor deve, sim, estar atento à “qualidade” dos candidatos, pois é aí que reside o problema. Há, sobretudo, uma preocupação com os cargos majoritários – Presidência, governadores e prefeitos -, quando o mandato legislativo é estratégico para a cidadania. É nos parlamentos que são discutidas as demandas públicas. É lá que são implementados os projetos, e é também nesses gabinetes que ocorrem distorções, como projetos de viés pouco republicano.
O eleitor se despreocupa com o voto proporcional e acaba sendo “sócio” nas mazelas cometidas, sobretudo por não avaliar os personagens e não levar o voto a sério. A maioria da população, passados quatro anos, não deve lembrar, sequer, o nome de quem recebeu o seu voto. Esse, sim, é um grande problema.
Desconsiderar a política é um erro que afeta a própria democracia, pois ela se faz pela representatividade. Quando se muda o caminho, os riscos são maiores.