Concessões de risco

Presidente abre o cofre para atender pleitos políticos sem medir consequências ou ouvir a opinião da equipe econômica liderada pelo ministro


Por Tribuna

27/07/2017 às 06h00- Atualizada 27/07/2017 às 07h53

Enquanto fazia concessões apenas na instância política, atendendo aos pedidos sem limites de deputados e senadores, o presidente Michel Temer estava no jogo, como fizeram todos os seus antecessores no perverso presidencialismo de coalizão, mas, ao abrir mão de preceitos econômicos para garantir a rejeição da denúncia formulada pela Procuradoria-Geral da República, ele envereda por caminhos perigosos.

A economia tenta se descolar e seguir adiante – dado que ele mesmo tem ressaltado nos seus pronunciamentos -, mas os recentes processos adotados pelo Planalto, contrariando as metas estabelecidas pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, apontam para um futuro incerto. Ao mesmo tempo em que faz um plano de demissão voluntária, o Governo é confrontado com um reajuste de 16,7% formulado pelo Ministério Público. Vai bancar? Se o fizer, abrirá a porteira para outros pedidos.

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Ao dar posse ao ministro da Cultura, Temer o autorizou a anunciar um auxílio de R$ 13 milhões para o Carnaval do Rio de Janeiro, para cobrir o buraco deixado pela decisão do prefeito Marcelo Crivella de reduzir pela metade os incentivos públicos para a festa de Momo. Só que o carnaval, a despeito de ser considerado o maior espetáculo da terra, não é a única manifestação cultural de porte no país.

Brasília fará o mesmo com os demais eventos, ou se trata de uma estratégia para agradar o estado, que é base política do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o primeiro na linha de sucessão, ou do ministro Moreira Franco, que entra sem bater no gabinete e é sogro emprestado do próprio presidente da Câmara?

Até o dia 2 de agosto, quando a denúncia entrará na pauta da Câmara, há o risco de novas benesses, mas é fundamental atentar-se para os efeitos colaterais quando envolvem a área econômica. Há previsões de baixa da inflação e de queda dos juros, mas números como dinheiro não aceitam desaforo, e o que menos se espera, agora, é levar para esse campo um jogo jogado no Congresso.

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