Luta permanente
Combater a corrupção não é um exercício temporário, e sim uma ação que deve começar nos pequenos gestos até questões de Estado nas quais o dinheiro público está em pauta
A corrupção é de longe o comportamento que mais atrapalha o desenvolvimento do país. A constatação é de uma pesquisa sobre valores atuais do brasileiro, realizada pela consultoria organizacional Crescimentum, em parceria com o Datafolha e divulgada nessa terça-feira. A meta era avaliar as principais percepções do brasileiro médio em relação aos valores pessoais e ao comportamento que acredita serem próprios do Brasil. A pesquisa mostra ainda o país que o brasileiro gostaria de ver no futuro e os valores apontados como prioridades para o Brasil. No topo da lista aparece o item cuidados com a saúde, seguido por justiça (739), paz (729), oportunidades de emprego (696) e cuidado com pessoas idosas.
Os dados são emblemáticos, pois apontam exatamente o que ora ocorre, sobretudo nas instâncias de poder, nas quais a corrupção tem sido tema recorrente. Pelo menos nos últimos dez anos, especialmente a partir do mensalão, o país não passa um só dia sem que o tema esteja na agenda. Com a Operação Lava Jato, a questão se aguçou, daí, a repercussão no inconsciente coletivo. O brasileiro, a despeito de tudo, tem plena rejeição e, quando pede justiça, verbaliza a intenção de que os culpados sejam severamente punidos não só por conta do ato em si, mas pelos efeitos colaterais. O dinheiro desviado dos cofres públicos durante todo esse período seria importante em ações sociais, na educação, na saúde pública e até mesmo na segurança. Todas essas áreas, hoje, passam por um ciclo preocupante.
A pesquisa revela ainda a necessidade de adoção de políticas permanentes de combate à corrupção. O uso indevido do dinheiro público tem que passar pelo viés pedagógico, a fim de informar, já a partir dos jovens, que essa prática deve ser abominada. O discurso “rouba, mas faz” não ajuda em nada na promoção da cidadania. Ao contrário, é um perverso escapismo para justificar as ações de agentes políticos que viveram ou vivem de comissões em projetos de interesse coletivo, nos quais, porém, há sempre uma sobra para o uso privado.
É fato que o país que sairá da Lava Jato será outro, mas é preciso investir no sentido de garantir que essa página esteja plenamente virada, não sendo apenas um período de folga até que outras ocorrências venham à tona.