Poderes unidos
Discurso unificado das lideranças de Estado é importante, mas só se justificará quando as ações necessárias de combate à pandemia saírem do papel
Com o país entrando na casa de 300 mil mortos pela Covid e mais de um ano após o primeiro caso, os poderes da República fizeram, nesta quarta-feira, a primeira reunião de trabalho para consolidar ações conjuntas de combate à pandemia. Houve uma clara defesa pela vacinação e propostas para acelerar a compra de material para proteger a população. O presidente Jair Bolsonaro fez, no entanto, um reparo preocupante ao insistir em tratamentos preventivos a despeito de não haver confirmação científica para sua eficácia.
Mas, para não ficar batendo na mesma tecla, o importante foi o fato de os poderes afinarem a sintonia e garantirem que vão se reunir com frequência para avaliar o que está sendo feito. Os efeitos da reunião, no entanto, não tiveram um olhar positivo unânime. Alguns governadores, como João Doria, de São Paulo – que não foi convidado para o evento -, consideraram a reunião um mero jogo para a arquibancada. A Associação Nacional de Prefeitos, também fora da lista dos participantes, foi pela mesma trilha e cobrou sua participação nos próximos encontros. Afinal, tudo acontece no município, e seria um contrassenso estes não estarem envolvidos no processo.
O governador de Minas, Romeu Zema, que estava na reunião, postou em suas redes sociais que desde o início da pandemia vem afirmando que brigar não resolve. “Propus um empenho internacional imediato para comprarmos medicamentos e vacinas.” Ele apontou para a importância do esforço diplomático com países que contam com sobras de doses no momento e também para ações que atraiam profissionais da saúde. O governador ainda passou pela área econômica ao dizer que defende a adoção de medidas que ajudem o setor produtivo.
O fim da briga exaltado pelo governador ainda é um horizonte distante, pois a própria nota de seu colega de São Paulo e a dos prefeitos apontam para novos enfrentamentos. Alguns desses impasses – e aí está o problema – não são forjados, necessariamente, em torno da busca da melhor política pública para combater o vírus, e sim com olhar voltado para 2022, quando haverá eleição geral. Infelizmente, a busca de ações efetivas vai continuar se dando em cima do palanque, dado problemático para a população.
No topo da lista das contaminações e com os leitos ocupados pelo país afora, o Brasil precisa com urgência de ações efetivas além dos discursos. A união dos poderes foi um avanço, mas seus resultados precisam ocorrer no curto prazo, pois não há tempo para esperar. O país precisa de vacinas e testagens, a fim de virar a curva da contaminação. Olhar para a frente é uma máxima a ser seguida por não haver outro caminho.