Consenso pela paz
Manifesto dos governadores é um passo importante, que precisa de manifestações semelhantes do Congresso e dos setores econômicos e sociais do país
Governadores de 24 estados e do Distrito Federal, reunidos nesta segunda-feira, decidiram implementar uma ação conjunta para reduzir a tensão entre as instituições. Além de uma nota, têm como meta uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro, a fim de convencê-lo a mudar de postura. Há consenso em torno desse enfrentamento: todos perdem. O país ainda tem um passivo expressivo de mortes pela pandemia, e a economia dá sinais de estar patinando, bastando ver os últimos números do próprio Governo e dos aumentos recentes dos juros pelo Banco Central. O mercado já não esconde sua preocupação e cobra medidas imediatas. Os governadores sentem na pele os efeitos desse enfrentamento, sobretudo quando lhes é imputada parte da responsabilidade pelos recentes problemas.
Independentemente de o presidente aceitar a conversa, a manifestação dá margem para outras iniciativas em busca de um consenso, pois o país não pode viver permanentemente nesse clima de incertezas. Os “bombeiros” precisam agir enquanto há tempo. Em 2022, ano de eleições, a tendência é de amplificação dos protestos e dos enfrentamentos, daí a necessidade de se agir rápido, antes de a situação ganhar contornos de irreversibilidade.
A causa pela paz, porém, não deve se esgotar no manifesto dos governadores, carecendo de participação de outras lideranças, como fez ontem o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, que destacou ser a democracia um bem inalienável. O presidente da Câmara, Arthur Lira, um dos próceres do Centrão, mergulhou. Ele teria feito um acordo com o presidente quando colocou a votação do voto impresso na pauta. Se a matéria não fosse aprovada, o
Governo não iria reagir, mas não foi isso que aconteceu. O presidente, como aconteceu também ontem, voltou a colocar em dúvida a segurança das urnas eletrônicas. Mesmo cobrado, Lira saiu de cena.
Os impasses institucionais continuam na pauta como se o país não tivesse outras agendas. Há uma clara necessidade de rediscussão da política econômica e votação de temas importantes ora em tramitação no Congresso, como a reforma administrativa. A mudança no imposto de renda, outra causa que chama a atenção, tem entrado e saído da pauta antes de ir à votação.
Além do mais, a Covid não é uma questão vencida. A variante Delta, que deu as caras também em Juiz de Fora, é um ponto preocupante, que carece de avaliação. Tem um poder de disseminação mais intenso, mas sua letalidade ainda é discutida. De qualquer forma, é um dado a mais nessa luta que o mundo trava desde março do ano passado.