Alerta ao centro

Eleições no Chile apontam para a desorganização das forças de centro, que pode se repetir no Brasil


Por Tribuna

23/11/2021 às 07h00

As eleições chilenas serão decididas em segundo turno, no dia 19 de dezembro, entre os candidatos Gabriel Boric, de esquerda, e José Antonio Kast, da extrema direita, num pleito marcado pela ausência dos ex-presidentes Michele Bachelet, de centro-esquerda, e o conservador Sebastián Piñera – ambos comandaram alternadamente o país nos últimos 16 anos. Os observadores internacionais chamaram a atenção para o terceiro lugar, ocupado pelo economista e engenheiro Franco Parisi, visto como um populista antissistema, que obteve 12,8% dos votos.

Seja qual for o resultado final das eleições, chama a atenção a ausência de um nome de centro, capaz de capitalizar os insatisfeitos com os extremos. Os finalistas têm um discurso definido e totalmente antagônico, numa clara demonstração do desejo de mudança da população.
A lição a ser tirada do pleito chileno é a incapacidade de organização das forças de centro num cenário que se mostra polarizado em várias partes do mundo. A democracia liberal está sendo colocada em xeque, e não há percepção de avanços no cenário internacional. No Brasil, a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula ganha um novo componente que não altera em nada essa tendência. O ex-ministro Sérgio Moro, que já começa a sair do traço nas pesquisas, não é um candidato de terceira via. Ele é de direita e tem deixado isso muito claro nos pronunciamentos na tentativa de ocupar o espaço do presidente da República.

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Chama também a atenção a incapacidade de os partidos que poderiam encaminhar a terceira via se organizarem. O PDT de Ciro Gomes ainda faz o rescaldo do voto de sua bancada a favor do Governo, que levou o candidato a suspender sua campanha, mas o cenário mais grave está no universo tucano. A prévia do partido, no último domingo, que visava definir o candidato à Presidência da República e a conciliação dos pretendentes, esbarrou num impasse tecnológico com repercussões políticas.

O aplicativo emperrou já pela manhã, e não houve técnico que desse jeito, levando à suspensão da votação a ser realizada em nova data – possivelmente no próximo domingo -, mas cuja discussão mostrou a cisão que perigosamente se acentua. O governador João Doria e o ex-senador Arthur Virgílio apresentaram um discurso em contraposição ao do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Embora o cachimbo da paz tenha sido fumado há uma semana, em Porto Alegre, fica difícil prever o que virá pela frente.

Como aconteceu no Chile, a ausência de um nome consistente ao centro pode levar a eleição para a polarização, sob o risco de o país, de novo, enfrentar um cenário de duros embates – o que é do jogo -, mas com sérios problemas nas redes sociais, por onde passam os discursos apartados do viés democrático e as fake news

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