Tiro no pé
Em todas as pesquisas sobre a credibilidade das instituições, a instância política tem ficado na altura do rodapé, tendo como causa as suas próprias ações e inações.Os escândalos diários levantados pelas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público têm contribuído para todo esse desprestígio, mas a matriz são os próprios políticos, que ainda não compreenderam a dimensão dos fatos, preferindo insistir na desconstrução do papel de sua instituição. Quando próceres da República e players dos principais eventos dos últimos anos são envolvidos em tais mazelas, as ruas não costumam fazer distinção. Fulanizam, sim, os personagens, mas jogam a responsabilidade sobre o grupo, pois este é parte responsável por não tomar atitude.
O processo de degradação da política é coisa antiga, mas ganhou dimensões hiperbólicas no país após o mensalão, de 2005, mesmo se sabendo que os “anões do orçamento, anos antes, já haviam sido flagrados fazendo uso privado do dinheiro público. A partir daí, foram denúncias em cima de denúncias, com constatações de atos de corrupção. Quando o caso Petrobras veio à tona, o “mundo caiu” e imaginava-se não haver algo mais grave. Depois surgiu a Odebrecht e, agora, a JBS. Pelo andar da carruagem, outros fatos virão, para decepção coletiva e preocupação dos segmentos de bom senso.
A desconstrução da política é perversa para o país, pois dá margem para o surgimento de arrivistas, tipo salvadores da Pátria, que, com discurso fácil, envolvem a massa hoje órfã de bons exemplos. Mais do que isso, cria espaço para discursos de retrocesso, pregando a volta dos militares, algo que nem mesmo eles querem, por entender que não é sua função.
De grandes episódios aos de menores dimensões – passando pelos áudios da JBS ao entrevero entre vereadores que virou caso de boletim de ocorrência na polícia -, o desprestígio da política atrasa o país, fragiliza as instituições e põe em xeque a própria democracia, um bem conquistado pelas ruas depois de anos de ditadura.