Caminho do meio

Pesquisa aponta preferência dos eleitores por candidaturas apartadas do espectro radical, embora seja cedo para antecipar os cenários que serão registrados em 2026


Por Tribuna

21/03/2023 às 07h00

O segundo turno das eleições presidenciais do ano passado, representado pelos candidatos Luiz Inácio Lula e Jair Bolsonaro, foi resultado da polarização que se consolidou no país e do fracasso da chamada terceira via que, a despeito de todos os ensaios, não se viabilizou. Alguns nomes chegaram a ser apontados como caminho do meio mas ficaram pelo caminho, como foi o caso do ex-governador de São Paulo, João Doria. Primeiro a investir na vacinação em massa da população de seu estado contra a Covid, foi atropelado pelas idiossincrasias de seu próprio partido. Os tucanos racharam e a prévia, em vez de unificar a legenda, quebrou de vez a expectativa tucana. Doria sequer disputou a presidência.

Outros nomes tentaram se apresentar como representantes dos eleitores que não queriam nem Lula nem Bolsonaro, mas também não conseguiram adesão suficiente para chegar ao segundo turno. O ex-ministro Ciro Gomes, como já havia ocorrido em outros pleitos, tropeçou no próprio discurso, e a senadora Simone Tebet só começou a ter visibilidade quando o cenário já estava definido. Ademais, enfrentou o fogo amigo do seu próprio partido. Parte do MDB ficou fora de seu palanque.

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A polarização, que culminou com a volta do candidato petista ao poder, agora para um terceiro mandato, não arrefeceu o sentimento da terceira via. Levantamento do Instituto de Pesquisas Econômicas (Ipec) trata do assunto. Para 57% dos entrevistados – 39%, que concordam plenamente, e 18% que concordam em parte – seria importante que emergisse uma liderança capaz de quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro. 27% são contra e 5% não souberam responder. Chama a atenção o fato de não haver viés ideológico para o caminho do meio. Os entrevistados consideram que o novo nome pode ser tanto da esquerda quanto da direita.

A pesquisa é reveladora do cansaço de boa parte da população com o cenário que se instalou a partir de 2018, quando a campanha presidencial, mesmo sem a presença de Lula, foi levada ao extremo. Em 2022 a tensão foi maior ainda e, a despeito do novo mandato, ainda não acabou.

O presidente Lula, que num primeiro momento, chegou a dizer que não disputaria a reeleição já não sustenta mais esse discurso, sinalizando que, mesmo com 80 anos, pode estar no palanque na busca de um quarto mandato. Já o ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda nos Estados Unidos, teme ficar eleitoralmente inviabilizado pela Justiça ante uma série de ações que contra ele tramitam no Judiciário. A questão é saber quem ocupará esse possível espaço ou se habilitará a quebrar a polarização.

Ciro Gomes disse que não disputará mais um mandato e Simone Tebet está no Ministério do Planejamento. Mantém sua visibilidade, mas não pode fazer qualquer ensaio eleitoral sob o risco de perder o emprego. A esquerda, com a presença de Lula, tem pouca ou nenhuma opção.

Os governadores de Minas, Romeu Zema, e de São Paulo, Tarcísio de Freitas, são os nomes preferidos da direita, sobretudo por não apostarem no seu extremo. Ambos mantêm relações republicanas com o Governo Federal – até mesmo por necessidade – e fazem um discurso menos tenso, ora sinalizando para o espectro bolsonarista, ora falando como uma opção de centro.

Com apenas três meses da atual legislatura é prematuro discutir a sucessão presidencial, embora os políticos, tão logo tomem posse, já pensam no mandato seguinte. Há no meio do caminho a eleição municipal, que pode dar pistas do comportamento do eleitor. A conferir.

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