Desvio ético
Fura-filas estão sob investigação e devem sofrer algum tipo de sanção por cortarem caminho numa campanha de alcance coletivo
A imunização indevida de personagens que se tornaram fura-filas tornou-se um escândalo de dimensão nacional por ter sido um fenômeno que alcançou a maioria dos estados. Em Minas, no entanto, há contornos perversos ante o uso abusivo da prerrogativa por cerca de 1.500 pessoas sob o manto da Secretaria de Estado da Saúde, de acordo com dados iniciais encaminhados à Comissão Parlamentar de Inquérito implantada pela Assembleia. Nesse pacote, os deputados vão investigar inclusive as superintendências regionais perante informações de que também nelas houve incorreções.
Em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora, na última sexta-feira, o deputado Noraldino Júnior (PSC), um dos membros da CPI, destacou que os funcionários que tiveram o benefício não agiram de moto próprio, tendo sido, obviamente, autorizados por superiores hierárquicos. Antes mesmo de confirmar os dados, o governador Romeu Zema demitiu o secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, cujo desempenho à frente da pasta foi elogiado no próprio ato de exoneração.
A CPI, que fez sua segunda reunião na sexta-feira, após ter sido instalada na véspera, terá quatro meses para concluir seu trabalho. Por enquanto, não houve discussão sobre o tipo de punição que será aplicado aos fura-filas. Há defensores de multas pecuniárias ou cestas básicas que seriam encaminhadas para entidades beneficentes ora fragilizadas pela pandemia, mas o dado central é a necessidade de algum tipo de sanção.
Num momento em que os insumos estão perto do colapso, e a população vive a angústia diária à espera da sua vez, não há como fechar os olhos para o “by pass” efetuado por esses segmentos. Foi, no mínimo, uma atitude antiética. O governador Romeu Zema, também entrevistado pela Rádio CBN Juiz de Fora na última quinta-feira, disse que organismos internos também estão apurando os fatos e já detectaram divergências nas informações.
Numa situação de tal porte, é estratégico o trabalho dos responsáveis pela investigação – e aí também entra o Ministério Público -, para que não se cometam injustiças. Todos devem ter o amplo direito de defesa, capitulado em lei, mas não há espaço para omissões.
A CPI, no entanto, não pode cair na armadilha da politização. O que se espera dos parlamentares – e é essa a aposta dos eleitores – é uma investigação que chegue aos responsáveis sem resvalar no debate político que continua sendo pauta na discussão nacional em torno da pandemia. O enfrentamento ideológico é desnecessário quando estão todos no mesmo barco. A doença não vê partido, orientação política ou sexual, muito menos raça, cor ou credo. Não há exceções.