Vidas perdidas
Acidentes de trânsito têm sido rotina nas metrópoles com resultados trágicos para vítimas e autores, que se veem envolvidos num enredo de insegurança nas estradas urbanas e nas rodovias
Qualquer pessoa está sujeita a passar mal ao volante, mas o caso do Rio de Janeiro, em que 17 pessoas foram atropeladas nas areias da Praia de Copacabana, vai além disso. O autor do atropelamento coletivo tem um histórico recorrente de infrações. Além disso, omitiu, durante o exame, que era sujeito a crises, por saber, provavelmente, que ficaria impedido de dirigir. O resultado é uma família estraçalhada pela morte de uma criança de apenas oito meses, quando estava na praia passeando com a mãe. O motorista não podia, pela doença e pelas multas, estar ao volante. Como estava, assumiu o risco, e seu gesto, pelas evidências, se enquadra claramente no dolo eventual, pois ele era ciente das consequências.
No mesmo dia, em Brasília, uma motorista, dirigindo a 120 quilômetros numa via em que o limite era de 60 quilômetros, atropelou e matou um casal de idosos que, recentemente, tinha comemorado bodas de ouro ao lado de filhos, netos, bisnetos e amigos. Passeando ao lado da pista, não tiveram, sequer, a chance de tentar escapar. Por ironia da vida, as famílias – da autora e das vítimas – se conhecem. Mais duas famílias, portanto, ficarão marcadas pelo resto de suas vidas pela ação imprudente da motorista, que se encontra em estado grave num dos hospitais do Distrito Federal.
O trânsito no Brasil é um dos que mais matam no mundo, resultado não apenas da incapacidade dos motoristas, mas também da inação do Estado, incapaz de fazer cumprir as leis. As penas também são frágeis, só agora, incrementadas no novo Código Nacional de Trânsito. Some-se a isso a qualidade das rodovias que cortam o país, a maioria delas em situação precária, com falta de acostamento, sem sinalização e pista de rolamento recheada de buracos. Essa composição tem sido perversa, bastando ver as estatísticas.
Da mesma forma que fez com o cigarro, o Governo deve insistir também em campanhas educativas. Há tempos, uma delas chamava a atenção dos motoristas para que não fizessem do carro uma arma, pois a vítima poderia ser o próprio usuário. Hoje não se vê nenhum trabalho nesse sentido, contrariando os próprios números. Com financiamentos de longo prazo, nunca houve tantos carros rodando como nos tempos atuais. Quanto à qualidade dos motoristas, esta deixa a desejar.