É preciso falar

Número de mortes pelo mundo afora é subestimado por razões diversas, confirmando um tabu que só agora começa a ser combatido pela exposição das causas e das consequências do autoextermínio


Por Tribuna

17/09/2020 às 06h57

Discutir o suicídio em suas causas e seus efeitos sempre foi um tabu, sobretudo na mídia, por ser considerado um incentivo àqueles com tal pretensão. Foi um comportamento de época, que não pode ser demonizado, mas que ora carece de reavaliação. A própria ciência indica que discutir é mais eficaz do que silenciar, sobretudo quando essa discussão se faz com responsabilidade e voltada para educar os setores que sempre consideraram que ficar calado era o método mais eficiente.

Na última terça-feira, a Rádio CBN Juiz de Fora ouviu especialistas e confirmou o que já tinha sido adotado nas plataformas do Grupo Solar de Comunicação: é preciso falar. E há razões para isso. O suicida não necessariamente está querendo morrer. Ele quer, sim, se livrar dos tormentos que acabam levando a gestos extremos. Em boa parte dos casos, sinaliza sua agonia para os mais próximos, mas, até mesmo por questões culturais ou de educação, esse apelo silencioso é ignorado.

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A depressão é responsável por pelo menos 35% dos casos, mas ainda há tabus para seu acompanhamento. Ora é confundida com tristeza, ora como frescura, ficando em segundo plano quando deveria ser a prioridade do grupo. Trata-se de uma doença que atinge todas as classes, raças ou credos, amplificada pela contemporaneidade das redes sociais.

O território digital não dá espaço para infelicidade, bastando ver as postagens especialmente de Instagram e Facebook, mas o mundo real não é tão colorido. Pelo mundo afora, há pessoas que pedem socorro e se consideram apartadas desse cenário pintado na web. De novo, educar a população é um passo adiante no enfrentamento ao autoextermínio.

Os números globais estão na escala de pandemias, mas seu impacto é menor pelo comportamento da própria sociedade, que não expõe tais fatos.

O Setembro Amarelo joga luzes nessa questão, por abrir fóruns de discussão que abordam diretamente o tema e amplificam tais avaliações. Famílias conscientes terão meios de perceber sintomas ainda na sua fase inicial e estarão aptas a tomar as medidas para evitar sua progressão.

Há saídas, muitas delas por meio de medicamentos, e outras por acompanhamento, todas capazes de virar o jogo.

O mês é apenas uma referência, uma vez que a discussão deve ser uma agenda permanente da própria sociedade. O suicídio, tal o número de ocorrências, é também uma demanda de saúde pública, implicando a adoção de políticas de enfrentamento. Silenciar, jamais.

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