Mudanças no sistema
Investir na mobilidade urbana passa, necessariamente, pela readequação do transporte coletivo urbano, que, ao curso dos anos, tornou-se um dos principais desafios das metrópoles
A reformatação do sistema de transporte, a ser inserida num pacote mais amplo envolvendo a mobilidade urbana, tornou-se questão prioritária para o Governo ante os desafios que o atual modelo vem impondo aos gestores municipais. Não é de hoje que o transporte público passa por uma situação crítica ampliada ainda mais pela pandemia, quando a ocupação dos ônibus despencou num cenário que já estava em queda. A boa notícia, tema principal da edição de ontem da Tribuna, foi o crescimento do número de pessoas que fazem uso do sistema. “Em março deste ano, dois anos após o início da pandemia, o número de usuários dos ônibus urbanos superou, pela primeira vez em dois anos, a marca de seis milhões de usuários em um mesmo mês. Foram, 6.241.123 bilhetes utilizados, no mês de março, segundo o
Portal da Transparência da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF)”, diz a matéria. Essa marca, no entanto, está distante dos dez milhões de usuários, no auge da ocupação, e até mesmo no período de férias escolares, mas sem pandemia. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2020, mesmo com a redução histórica do período, o número de usuários/mês registrado foi, respectivamente, de 7,3 milhões e 7,1 milhões.
No mesmo dia em que os números são comemorados e a Prefeitura denuncia o contrato do Consórcio Manchester, decretando a sua caducidade, a pergunta a ser feita é voltada para o futuro. Com a concorrência de outros meios, especialmente de aplicativos, o transporte público terá que se reinventar, não só para enfrentar a concorrência, mas também para garantir serviço de qualidade e tarifas de acordo com o bolso da população. A primeira parte cabe às empresas. Nos últimos anos, o número de reclamações aumentou substancialmente e reforçou a decisão do Município de cancelar o contrato de concessão, daí a necessidade de se adotarem medidas de controle que garantam tal eficiência. A cidade não tem outro modal para acolher a demanda, como nas metrópoles, nas quais metrô e trens participam do sistema. Como únicos no transporte público, os ônibus têm que cumprir a contento a sua missão.
Quanto aos custos do sistema, não é de hoje que se discute a impossibilidade de sustentá-los apenas pela tarifa, deixando para o usuário tal responsabilidade. Com a redução de passageiros, a despeito de uma tímida retomada, tal modelo se torna insustentável para as empresas, cujos custos, sobretudo num cenário inflacionário, sobem ostensivamente. Ao fim e ao cabo, a conta não fecha.
No chamado primeiro mundo, o Estado tem participação ativa, subsidiando o sistema. A Prefeitura de Juiz de Fora, desde o ano passado, tem adotado essa política, a fim de garantir a estabilidade do preço das passagens. Este ano, mesmo com a inflação, não haverá reajuste, embora o município tenha que garantir aos concessionários o democrático lucro na prestação do serviço.
Discutir o papel dos ônibus é apenas uma etapa do projeto principal da mobilidade, que passa, necessariamente, pela adequação das vias urbanas, principalmente dos corredores, mas também pela implementação de ciclovias e outras alternativas que reduzam o número de automóveis nas ruas, com destaque para a área central.