Marcas da violência

Pelo país afora, milhares de pessoas protestaram pela morte da vereadora Marielle Franco, indicando que os tiros que lhe tiraram a vida foram endereçados à própria sociedade


Por Tribuna

16/03/2018 às 06h30- Atualizada 16/03/2018 às 07h46

O Rio de Janeiro foi palco de mais um ato de insanidade, fruto do sentimento de impunidade que ainda prevalece em alguns segmentos e da falta de controle do Estado, hoje incapaz de dar garantias de segurança aos cidadãos. A morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) foi a face exposta desse sentimento, que pode ter várias interpretações: reação à intervenção federal no Estado ou execução por conta de seu trabalho na Câmara Municipal. Mulher, negra e da comunidade, era uma das mais ativas do Legislativo, sendo a voz que cobrava políticas sociais e respeito aos direitos da população mais carente, vira e mexe na linha de tiro dos frequentes enfrentamentos. Sua morte não foi um gesto aleatório. A marca da violência se explicitou da forma mais grave, por haver escolha prévia. Ela era o alvo da ação dos criminosos.

Mataram a vereadora, mas não mataram o seu legado. Ao contrário, ele agora se reverbera pelo país afora nas vozes daqueles que clamam por Justiça e punição aos autores do crime. Várias manifestações indicaram que o gesto não pode ficar impune, pois foi um atentado à própria democracia. Em suas falas, até líderes opostos da política como o presidente Michel Temer e o ex-presidente Lula foram pelo mesmo caminho ao exigir respostas. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pensou até em federalizar o crime, passando a investigação para a Polícia Federal. A polícia do Rio garantiu, porém, ser capaz de elucidar o caso.

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Mas o tiro que matou Marielle aguçou o sentimento das ruas de que é preciso exigir ação do Estado não só com a descoberta dos autores, mas também por investimentos capazes de resgatar o direito de ir e vir da população, hoje cerceado em várias frentes. A intervenção não irá obter sucesso se ficar restrita à repressão. A presença do Estado tem que ser permanente, sobretudo em áreas que carecem desse atendimento.

O Rio, porém, é uma das faces desse cenário que se espalha pelo país afora. Os protestos que mobilizaram milhares de pessoas pelas cidades brasileiras são a prova cabal da indignação coletiva que não se prende apenas à capital fluminense, sendo um sentimento coletivo de reação à intolerância, ao preconceito e à dominação dos que se sentem acima da lei.

 

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