Treino para o ministro

Bem-sucedido em suas ações, Paulo Guedes carece de treinamento para lidar com a mídia e, por consequência, com a opinião pública. Suas declarações viram sempre um problema


Por Tribuna

16/02/2020 às 07h00

O ministro Paulo Guedes está colocando a economia nos trilhos, bastando ver os números envolvendo sua gestão, mas carece, com uma certa urgência, de um media training, pois vira e mexe solta uma declaração que compromete o sucesso de seu próprio trabalho e leva incertezas para o mercado.

Uma semana após chamar de parasitas os funcionários públicos, generalizando uma regra que não procede, achou estranho empregada doméstica ir à Disneylândia, como se lá fosse um território privativo dos setores mais abastados. Soa preconceito, e é, pois, após a melhora dos patamares sociais, com a ampliação da classe média, os aeroportos, a parte mais emblemática desse novo status, deixaram de ser um espaço privativo, passando a receber a classe média, que também foi para os cruzeiros e aumentou, inclusive, o turismo interno.

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Sem jeito para falar em público, o ministro deveria ser alertado sobre as consequências de suas afirmações, sobretudo por não se tratar de um personagem qualquer: ele é o responsável pela economia, a área mais sensível por ser também vetor para outras instâncias. Se a economia vai bem, tudo vai bem, até mesmo a democracia. Ademais, ele cria retrabalhos. Seu projeto de reforma tributária pode até ser bom, mas terá que atuar com mais empenho para convencer os políticos de sua eficácia, por causa da insatisfação causada no Parlamento.

Suas declarações acabam servindo de matéria-prima para mobilizações de protestos e até mesmo de resistência às causas do Governo, apesar de sua importância. Todos esperam a reforma e querem saber qual projeto chegará ao Congresso. Se o Governo recuar, não haverá surpresa se o Parlamento tomar a iniciativa, pois todos estão cientes da necessidade de um novo modelo. O atual é perverso tanto para o setor produtivo quanto para a população, pois o país é um dos que mais tributam e dos que menos retornam esses recursos em serviços de alcance coletivo. Ao contrário, as áreas de saúde, educação e segurança, que demandam investimentos permanentes, continuam aquém da necessidade.

Vale o mesmo para o setor empresarial, que vive à mercê de tributações espalhadas pelo estado que soam como bloqueios para a ampliação de investimentos. Some-se a isso a falta de regras. O Rio de Janeiro, durante a gestão Rosinha Garotinho, adotou uma política danosa para os demais entes federados, concedendo incentivos além do esperado, formalizando uma guerra fiscal em que todos perderam: os estados, por verem seus projetos migrando para o território fluminense, e o próprio Rio, que cedeu em demasia e recebeu de menos. Juiz de Fora, por ser vizinha, foi uma das regiões mais afetadas.

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