Antes que piore
Intervenção nos bairros para inibir o avanço da violência é uma ação necessária, pois prevenir é sempre melhor do que remediar
“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.” O poema “No caminho com Maiakovski”, do brasileiro Eduardo Alves da Costa, na abertura do editorial desta quinta-feira, é um alerta poético para ações e omissões do dia a dia que têm forte repercussão na vida comunitária. Na edição dessa quarta-feira, a Tribuna destacou a ação das polícias Civil e Militar nos bairros Santo Antônio, Vila Ideal e Vila Olavo Costa, que já dura três dias, para inibir a violência que marcou tais regiões nos últimos dias. Cinco pessoas já foram presas, e, de acordo com os policiais, a ocupação das áreas vai continuar.
Quando o Estado se omite, o poder paralelo age. E, quando a sociedade e os seus agentes silenciam, ele ocupa. O poema é uma denúncia e uma cobrança por ações preventivas, a fim de garantir à comunidade o direito de ir e vir sem intervenções do crime, como é visto no Rio de Janeiro, onde várias áreas são controladas pelo crime organizado. O jornal “O Globo”, na sua edição de terça-feira, revelou que 50% das áreas sob o controle da criminalidade já estão ocupadas por milícias, isto é, há uma divisão perversa com o tráfico, fazendo a população refém.
Quando ocorreu um dos primeiros sequestros em Minas Gerais, na cidade de Além Paraíba, a polícia mineira teve pronta reação, e os criminosos foram presos, o que levou o então secretário de Segurança Pública, deputado Mauro Lopes, a advertir que em Minas o crime não prospera.
Ações preventivas são necessárias, para evitar o que hoje é comum nas metrópoles, nas quais a segurança pública encontra-se num beco sem saída, já que várias regiões estão controladas pelo crime organizado. O noticiário é pródigo ao mostrar investidas esporádicas com o viés de contenção que acabam terminando em matanças. Se o problema não tivesse chegado a esse estágio, a situação seria outra.
Por isso, é louvável o trabalho das polícias Civil e Militar em agir antes que a situação saia de controle. Com cerca de 600 mil habitantes e a metrópole mineira mais próxima do Rio de Janeiro, Juiz de Fora está sempre sujeita a aproximações perigosas, que devem ser inibidas com precisão.
Ademais, é necessário focar a população, cuja expressiva maioria é formada por trabalhadores e trabalhadoras, que não podem se sujeitar ao controle que não seja do Estado formal.
Outras regiões, certamente, também estão sob monitoramento. Além dos bairros sob intervenção, há novas áreas quentes que carecem de atenção permanente. Afinal, prevenir é sempre melhor do que remediar.