De braços cruzados
Elevação dos preços dos combustíveis chegou às bombas dos postos antes mesmo da renovação dos estoques
Em 2018, quando eclodiu a greve dos caminheiros, que deixou o país de ponta-cabeça, o deputado André Janones (Avante) tornou-se um dos principais interlocutores da categoria. Este ano, pré-candidato à Presidência da República, tem advertido para os riscos de o episódio se repetir. Durante entrevista coletiva, nessa segunda-feira, após ter se reunido com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, o parlamentar admitiu que há uma possibilidade real de uma nova paralisação. “Se isso acontecer – não estou garantindo que vai, mas há um clima favorável -, existe uma adesão que não existiu nos últimos quatro anos em proporções bem maiores daquelas de 2018”, alertou.
As advertências de Janones fazem parte do dia a dia, com os aumentos praticados pelos postos de combustível, após anúncio de majoração dos preços para as refinarias feito pela Petrobras, na semana passada. Preventivamente, pelo país afora, o preço, que já era alto, foi às alturas. Tal decisão cria um efeito cascata na cadeia produtiva, pois quase todos os produtos têm dependência do valor dos combustíveis por meio do frete.
A chiadeira é geral, a começar pelo presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que anunciou, também ontem, que o Senado Federal irá exigir o cumprimento do papel social da Petrobras, para que a sociedade brasileira não seja mais penalizada com a escalada sem freio do preço dos combustíveis. Para o senador, os resultados financeiros são positivos para a estatal, mas não condizentes com os sacrifícios impostos à população, que padece com os aumentos de seus produtos.
Rodrigo Pacheco lembrou ainda que o Senado aprovou, na última semana, duas propostas legislativas (PL 1472/2021 e PLP 11) que buscam a equalização do imbróglio. “O Senado já tomou duas iniciativas, uma inclusive já sancionada, e sem prejuízo de outras. Há diversas discussões que estão sendo feitas em torno disso, especialmente a participação da Petrobras na solução desse problema. A Petrobras tem hoje uma lucratividade na ordem de três vezes mais do que os seus concorrentes e dividendos bilionários”, destacou.
O Governo também se mobiliza para conter a elevação, mas ainda não houve resultados no preço na bomba, o que leva a crer que todos estão batendo cabeça para resolver, mas nenhuma saída deu resultado. A decisão de Brasília de reduzir tributos desagrada os governadores. Acham que abrir mão de receita na atual conjuntura é um grave problema para os estados que têm outros encargos.
O cidadão comum, que acaba pagando o custo de todo esse imbróglio, continua sem entender os motivos de o país, a despeito de ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo, ter uma gasolina bem mais cara do que a Argentina – o que, aliás, tem levado brasileiros a cruzarem a fronteira para abastecer no país vizinho.
O argumento dos preços internacionais vale até certo ponto, mas é necessário encontrar uma saída que não seja demagógica, própria de anos eleitorais, mas capaz de frear os preços sem, também, comprometer a própria empresa, que, a despeito de ser estatal, tem ações privadas que não são responsáveis pela conta.