Sob pressão
Partidos fecham questão em torno da reforma da Previdência, mas precisam avaliar o que farão com dissidentes, sob o risco de ficarem desmoralizados se não houver sanções aos infiéis
A decisão do PSDB de fechar questão em torno da reforma da Previdência sinalizou para os demais partidos que não é hora de jogar para a plateia diante de tema tão relevante. Essa mesma plateia, aliás, será beneficiada com a mudança, uma vez que o atual modelo, se nada for feito, corre o risco de ir para o ralo. E aí, perdem todos. Há dados estatísticos indicando que o medo dos deputados por conta das eleições não procede. A maioria dos que votaram pela reforma, ainda na gestão Fernando Henrique, se reelegeu. Ligar uma rejeição ao voto é um desserviço, pois fica claro que o parlamentar que assim age atua de acordo com a maré, e não com as suas convicções.
A reforma da Previdência é fundamental para o país prosseguir no processo de reaquecimento da economia e de credibilidade de suas instituições. O tema, é fato, não é simples, sendo gargalo também em outros países, mas, lá como cá, a mudança se faz necessária, sobretudo por conta do novo perfil da sociedade. Durante muito tempo, o número de pessoas que entravam e saíam da Previdência estava equilibrado, mas, desde que as condições melhoraram e a vida tornou-se mais longa, as contas passaram a não fechar.
O PSDB, porém, tem que agir internamente para evitar as dissidências. Se fechou questão apenas para mostrar a força do novo presidente da legenda, Geraldo Alckmin, sem dar garantias, de fato, que todos os parlamentares irão cumprir a determinação, os tucanos também estarão cometendo um equívoco. A reforma não implica pirotecnias, e sim um jogo sério no qual os deputados e os senadores favoráveis à reforma têm convicção sobre a importância da matéria.
O Governo fez contas e vai passar a votação para fevereiro do ano que vem, após o recesso. Aí, abrem-se duas questões: à medida que as eleições se aproximam, os parlamentares ficam mais ligados ao grito das ruas. Por outro lado, votar agora e ser derrotado teria um custo elevado para o projeto de país do próprio Governo. Por isso, todos os pontos devem ser avaliados, a fim de garantir que o projeto avance e não se torne mais um entre os tantos outros arquivados.