Desafio virtual
Governo de Minas decreta volta às aulas, mas terá que dar plenas condições de acesso a todos os alunos, mesmo num cenário de desigualdade social
O retorno das atividades na rede estadual de ensino de Minas, detalhado ontem pela secretária de Estado, Julia Sant’Anna, é um desafio e tanto para o setor educacional, pois envolve alguns dilemas. O primeiro deles foi apresentado pelo Sind-UTE, sob a alegação de que, em meio à pandemia de coronavírus, a volta às aulas representa risco aos servidores da Educação, pois muitos desempenham funções administrativas que não podem ser realizadas a distância. A secretária destaca que o regime de estudos não presencial foi elaborado de maneira a garantir uma escala de servidores que terão que fazer a manutenção mínima predial para evitar o risco de focos de dengue. As escolas, no entanto, continuarão fechadas.
Outro ponto é a situação social dos 1,7 milhão de alguns estudantes que estão parados desde o dia 18 de março, quando o governador Romeu Zema assinou decreto de suspensão das aulas para conter a contaminação. Se não ocorrer a volta, mesmo pelo modelo virtual, há o risco, de acordo com as autoridades educacionais, de ampliar a evasão escolar, agravando a situação de fragilidade das famílias mais vulneráveis. Ademais, se já vão para concursos em desvantagem com a rede privada, esse problema tende a aumentar se não ocorrer o recomeço.
E aí há outra questão: na rede pública, o cenário de carência é mais acentuado, implicando a dificuldade de acesso ao meio digital por uma expressiva parcela de alunos. O modelo adotado em Minas segue padrões do Amazonas, que tem experiência de ensino remoto pelas próprias características do estado, mas não deixa de ser um desafio. De acordo com a secretária, várias ferramentas serão utilizadas – a Rede Minas -, mas será necessário aferir, já na primeira semana, a extensão do projeto, para, da mesma forma, evitar distorções.
Em havendo, o Governo deve criar novos mecanismos para alcançar todos os alunos além das apostilas impressas que serão encaminhadas aos que estarão desconectados. Se há, é fato, a necessidade de volta às aulas, também é fundamental que isso ocorra em igualdade de condições.
