Por todos os cantos vulneráveis
Para ser uma cidade melhor, JF precisa cuidar dos moradores em situação de rua
Desemprego, falta de moradia, desestrutura familiar, dependência química, desamparo governamental e, agora, pandemia. São diversos os motivos que acabam empurrando o cidadão para uma marquise, um canto de galeria, uma ponte, uma praça, uma calçada. A Tribuna mostra hoje, mais uma vez, que há sinais de crescimento do número de moradores em situação de rua em Juiz de Fora. Não há dados estatísticos que comprovem o problema. Mas esta é uma realidade facilmente observável em vários bairros e regiões da cidade, frequentemente vista no Centro, principalmente no Parque Halfeld, onde a reportagem esteve no final de novembro.
A coordenação do Centro de Referência em Direitos Humanos aponta que o último estudo realizado no município sobre o problema data de 2016 e estaria ultrapassado. No entendimento do órgão, a falta de dados atualizados estaria dificultando o estabelecimento de ações mais eficazes. A oferta de vagas para acolhimento deste público – 250 nas contas do Centro de Referência – também seria deficitária, apesar de a estrutura estar em pleno funcionamento. Já a Secretaria de Desenvolvimento Social da Prefeitura alega que tem realizado abordagens frequentes nas ruas, prestando informação e encaminhamentos de pessoas aos órgãos de assistência.
Ao que parece, no entanto, as ações realizadas até aqui não têm surtido efeito. A Tribuna vem recebendo com frequência reclamações de leitores sobre o aumento da quantidade de pessoas em situação de rua em várias partes da cidade. No início de novembro, uma matéria mostrou a preocupação de comerciantes e trabalhadores do entorno do Cine-Theatro Central. O uso de um fogareiro junto à porta do espaço, que é um patrimônio cultural da cidade, chegou a assustar um lojista pelo risco de incêndio. O jornal, por outro lado, já apontou a dificuldade de convivência e intolerância entre os moradores em situação de rua e a vizinhança dos locais onde eles se instalam. Há reclamações contra a agressividade das abordagens, o consumo aberto de drogas, a prática explícita de sexo e a presença de sujeira e mau cheiro.
O Parque Halfeld, que deve ser um espaço de acolhimento para todos, vive situação semelhante agora. Todos sabem que a população em situação de rua tem direito de estar lá. Mas, à medida que essa convivência se torna conflitante, afastando a vizinhança, revela-se urgente a necessidade de intervenção da Administração pública. Mais que isso, é preciso um trabalho sério e intensivo de resgate de cidadania dessas pessoas marginalizadas. O Comitê Intersetorial da População em Situação de Rua, que tem por função avaliar e monitorar as políticas públicas voltadas para este público, está inoperante desde fevereiro. A ativação de órgãos como este já pode ser um recomeço. Uma cidade que não cuida de seus excluídos não pode prosperar.