Salve-se quem puder
Partidos começam a selecionar apoios e admitem até tirar de cena seus próprios candidatos, já pensando na próxima legislatura
O processo eleitoral avança, mas nem todos os quadros estão definidos. O momento é crítico, com legendas que tentam alianças já pensando no próximo governo. Em encontro com o ex-presidente Lula, lideranças do MDB teriam se colocado à disposição para rifar a pré-candidatura da senadora Simone Tebet. Ela tem percorrido o país apresentando-se como uma nova opção e conversando com outros atores que vivem situação semelhante, como o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite. Ambos têm dito que podem ser a novidade no processo, formando uma dobradinha.
Ambos, porém, terão que remar contra a maré. Os dirigentes que conversaram com Lula já deram mostras de estarem mais preocupados com os seus mandatos, avaliando possibilidade de poder a partir do ano que vem. Já os tucanos que apoiam Eduardo Leite têm pela frente a candidatura do ex-governador de São Paulo João Doria. Ele sabe das articulações de seu colega de partido, mas já avisou que é ele o nome da terceira via. Mas tem que combinar com os demais candidatos, já que há um movimento em curso que não o tem como prioridade. O deputado Aécio Neves deu a senha ao dizer que Doria deveria jogar a toalha.
Ainda há muitas questões a serem definidas, mas as “rasteiras” próprias do salve-se quem puder, ou do fim justificando os meios, já estão em curso. O instinto de sobrevivência é uma máxima da política. O ministro Ciro Nogueira, um dos mais prestigiados do Governo Bolsonaro, já é visto com preocupação por aliados do presidente, após ter sido indiciado pela Polícia Federal por ações pouco republicanas. Trata-se apenas de um inquérito, mas, em ano de eleição, ninguém quer correr riscos.
Como já foi destacado neste mesmo espaço, os políticos estão voltados para as questões internas, deixando a campanha para o segundo semestre, mas seria importante se já dessem pistas do que pretendem implementar em seus possíveis mandatos. O país tem uma série de desafios, especialmente na economia, mas pouco se sabe sobre o que pensam os pré-candidatos, salvo as tradicionais frases de mobilização.
Vale o mesmo para os pré-candidatos a governador. Minas tem uma série de questões que carecem de solução, reforçadas pelo impasse quase permanente entre o Executivo e a Assembleia nesses últimos três anos. O governador Romeu Zema tem defendido a adoção do Plano de Recuperação Fiscal implementado pela União, o que facilitaria a recuperação financeira do Estado, enquanto seus críticos apontam para o sentido inverso. Na sua primeira semana como pré-candidato, o senador Carlos Viana (PSD) disse que a saída é política, mas não acrescentou detalhes à sua posição. Já o pré-candidato Alexandre Kalil, por enquanto, passou longe do tema.