Correndo contra o tempo
A formatação de um projeto de terceira via continua emperrada, enquanto os demais candidatos, especialmente os líderes das pesquisas, começam a se distanciar dos demais
Reunidos nesta quarta-feira, dirigentes do PSDB, Cidadania e MDB acolheram a proposta deste último de se fazer uma pesquisa qualitativa para avaliar qual o melhor candidato para representar a chamada terceira via. Os eleitores serão convidados a discutir os perfis dos pré-candidatos João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB). Com isso, o prazo de 18 de maio, estabelecido para a apresentação de um candidato único, deve mudar, já que os pesquisadores ainda estarão em campo. O levantamento não é para saber quem tem a melhor intenção de votos – feita em pesquisas quantitativas – e sim para encontrar o perfil adequado para a disputa eleitoral. Os questionários devem ser elaborados com a anuência dos dirigentes.
A pesquisa é a constatação formal do impasse que prevalece no chamado caminho do meio, sobretudo após o desembarque do União Brasil, de Luciano Bivar, que, além da candidatura própria, tem uma das maiores fatias do fundo eleitoral, graças à performance nas urnas de 2018, quando, ainda com o nome de PSL, elegeu a mais expressiva bancada na Câmara Federal. Com a fusão no ano passado, ganhou o reforço do DEM. Os dois remanescentes ainda estão patinando na casa de um dígito, distante até mesmo do candidato Ciro Gomes (PDB), mostrado sistematicamente na terceira posição. Em relação aos líderes da corrida – Lula e Bolsonaro – a distância é abissal.
A discussão que perpassa a cena nacional envolve o tempo que resta para a eleição de outubro. Há alguma possibilidade de o jogo mudar? É certo que política é igual nuvem, mudando a cada momento, mas os dados de hoje são pessimistas para uma nova opção. As idas e vindas nas discussões atrasaram a definição de um tertius, capaz de mudar a polarização que replica quatro anos atrás. O presidente e o ex-presidente estão percorrendo o país com um discurso de antípodas, isto é, questionando-se mutuamente, ignorando solenemente as ações dos demais postulantes. Trata-se de uma estratégia que serve de barreira para a ascensão de um novo nome sem que isso signifique algum tipo de impedimento para alianças de segundo turno.
Ademais, ambos já colocam na agenda uma questão cobrada por segmentos importantes do país: a economia. Em sua passagem por Juiz de Fora, nesta quarta-feira, o ex-presidente Lula, falando a reitores de 26 universidades públicas que lhe entregaram um documento com suas demandas, revelou que não haverá teto de gastos no seu governo, ressalvando que não será irresponsável gastar para endividar o futuro da nação. Mais tarde, para a militância, advertiu que pode rever possíveis privatizações do atual mandato.
Já o presidente Jair Bolsonaro trocou o ministro das Minas e Energia voltando-se para uma agenda que lhe tem sido cara: o preço dos combustíveis e seus desdobramentos na distribuição do petróleo. A despeito de todas as ações, o preço na bomba não cai, daí sua preocupação. Como tem a caneta, fez mais um movimento na economia.
Sem o poder de agenda, os demais postulantes sequer apresentam seus propósitos, já que ainda enfrentam a dúvida das alianças. Correndo contra o tempo, a terceira via tornou-se um desafio e, pelos dados de hoje, de difícil consecução.