A importância da maioria

Sem uma base consistente no Legislativo, presidente, governadores e prefeitos não conseguem levar adiante a suas demandas, por mais importantes que sejam para a população


Por Tribuna

12/03/2023 às 07h00

Já no terceiro mês da atual legislatura, o jogo político ainda mantém acesas demandas das eleições de outubro, com os grupos tentando marcar posição. Começando por Brasília, o presidente Lula deu tratos à bola e participou de um jantar de quase três horas com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, na noite de quinta-feira. A pauta surgiu após o parlamentar – durante encontro com empresários do comércio – ter dito que o Governo não tinha nem maioria simples no Congresso, o que seria um fator impeditivo para aprovar a sua longa pauta, resultante da campanha eleitoral.

Lula já foi deputado e sabe que é preciso conversar. Pouco se sabe do que foi dito entre um prato e outro na residência do ministro Paulo Pimentel, anfitrião do encontro, mas é certo que a fala do deputado foi a peça de resistência. Entre os muitos projetos em discussão na Câmara, a reforma tributária é um que demandará maioria qualificada, algo que, de fato, o presidente não tem.

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Como o governo ainda está no início, nem mesmo aliados com postos nos ministérios são uma garantia necessária para aprovação do texto. Lira, sim. Com forte poder de articulação e dono da caneta que libera emendas para seus pares, ele é o definidor dos rumos do projeto.

Conversar é uma necessidade da política, que não pode ficar apenas em torno de barganhas. O União Brasil, que tem três ministros no atual mandato, ainda oscila e conseguiu manter o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, no cargo, a despeito das muitas suspeitas que contra ele pesam. Em nome da maioria, sua substituição saiu da pauta. O presidente, no entanto, precisa buscar novos interlocutores para garantir suas mensagens.

Vale o mesmo para o governador Romeu Zema. No mandato passado manteve uma queda de braço com o então presidente da Assembleia, deputado Agostinho Patrus, e viu sobrestadas as suas principais propostas, como a privatização da Cemig, da Copasa e da Codemig. O diálogo sempre foi insosso e as mensagens não andaram, nem mesmo o Plano de Recuperação Fiscal de Minas, que Patrus segurou até os 44 minutos do segundo tempo, induzindo o governador a buscar respaldo – e conseguiu – na Justiça.

No meio da semana, o governador surpreendeu até mesmo o seu entorno ao convidar deputados aliados para uma conversa no Palácio. A novidade foi a ausência de secretários e até mesmo do vice-governador numa reunião que serviu para estreitar laços com a Assembleia. Zema mostra que está encontrando o caminho das pedras ao reconhecer que conversar é um meio adequado para ter maioria no Legislativo.

A eleição do deputado Tadeu Leite para a presidência da Assembleia foi a mais recente e importante lição. Embora, oficialmente, não tenha tido qualquer ingerência, o governo trabalhou fortemente nos bastidores para emplacar o deputado Roberto Andrade, um aliado de primeira hora e veterano na política. A operação foi um desastre e não houve outro caminho a não ser apoiar “Tadeuzinho”, que apresentou uma candidatura independente.

A nova estratégia é o caminho a ser seguido, pois num cenário de coalizão, não há como governar sem o aval do Legislativo. E a recíproca é verdadeira. Os parlamentos também dependem do Executivo, a quem é reservado o poder de agenda. Para que todos se entendam, é preciso, pois, dialogar, já que esticar a corda é o pior dos mundos.

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