A articulação de Zema

Para consolidar seus principais projetos, como a venda de ativos do Estado, o governador precisa melhorar sua articulação na Assembleia Legislativa


Por Tribuna

12/02/2023 às 07h00

Embora tenha sido praticamente induzido a apoiar o novo presidente da Assembleia, Tadeu Leite, após o fracasso do projeto de seu candidato in pectore, deputado Roberto Andrade, o governador Romeu Zema, em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, mostrou-se entusiasmado com o novo presidente do Legislativo mineiro, certo de que, dessa vez, poderá emplacar projetos importantes, como a privatização de ativos do Estado como Copasa, Codemig e Cemig.

Pela cortesia mineira, o governador não citou o nome antecessor de Tadeu, o ex-deputado Agostinho Patrus – agora abrigado no Tribunal de Contas do Estado –, mas deixou claro que o ex-presidente da Assembleia foi o fator impeditivo de sua pauta de privatização. O que Zema não disse é que, há quatro anos, quando Patrus era o nome da vez, ele o apoiou para comandar o Legislativo Mineiro. Tadeu, que se coloca como um independente, não dá garantia de nada, mas Zema aposta nesse projeto.

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Desde o primeiro dia de mandato, o governador apresentou aos mineiros um novo projeto de poder, pelo qual o Estado deveria ser mínimo na vida da população e efetivo nas suas ações, mas encontrou problemas na Assembleia, que, a partir da primeira hora, resistiu à sua pauta, sob a orientação de Agostinho Patrus. A privatização saiu da agenda, e até mesmo projetos como o de recuperação econômica fiscal de Minas ficaram nas gavetas do Legislativo. O Estado teve que recorrer à Justiça para obter, via liminar, a implementação do Plano de Recuperação Fiscal.

O governador, a despeito de agora estar no segundo mandato, ainda precisa afinar a sintonia da sua própria equipe para participar do intrincado jogo da política. Desde a sua reeleição, o deputado Roberto Andrade, cuja base eleitoral se situa na cidade de Viçosa, se apresentou como a opção preferencial, mas as articulações se mostraram desastrosas por uma série de fatores. Um deles foi do pouco envolvimento do próprio governador, que delegou o papel de articulação a assessores de sua confiança, como secretário de Governo, Igor Etô. A despeito de sua integridade e sua boa vontade, ele se viu no meio do jogo bruto da política e envolveu até o alto comando da PM, quando teria condicionado o apoio de um parlamentar à indicação de um oficial superior. Com isso, o projeto Andrade foi para o ralo, e o secretário se viu colocado em segundo plano, mesmo mantendo a confiança do chefe do Executivo.

É em torno de detalhes como esse que o governador deve estar atento. O novo presidente da Assembleia, Tadeu Leite, mesmo sendo do seu agrado, é um político de grande articulação, e nada garante que ele será um defensor intransigente da pauta do Estado, sobretudo a que trata da indigesta privatização. Vender ativos do Estado ainda é um tema árido no Parlamento, que tem por hábito jogar para a plateia. Ao menor questionamento das ruas, os deputados e as deputadas tendem a acompanhar a opinião pública, a despeito de reconhecerem a importância dos projetos.

No primeiro mandato, Zema vendeu mal as privatizações e ainda viu seu governo envolvido em discussões em torno da Cemig. Nessa segunda rodada, acredita-se que terá mecanismos mais sólidos para formar uma maioria de dois terços. Seu vice, Mateus Simões, é um hábil articulador, capaz de desatar os nós que impedem, pelo menos, o início dos debates, mas caberá ao governador formatar todo o projeto e mostrar que a privatização é uma necessidade, e não um mero projeto de seu partido.

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