Queimando etapas

Discutir nomes para o pleito de 2022 pode ser uma estratégia para se alcançar visibilidade, mas também é um problema para quem se expõe com tamanha antecedência


Por Tribuna

11/11/2020 às 06h58

Antes mesmo de as cidades conhecerem seus vereadores e prefeitos ou prefeitas – ou, no caso dos executivos, os que vão para o segundo turno -, o noticiário de início de semana se voltou para os desdobramentos das eleições americanas, com a derrota do presidente Donald Trump, que ainda resiste em aceitar, em razão de a oposição moderada ter virado o jogo, encerrando um ciclo de quatro anos de puro radicalismo a partir do chefe do Governo.

Mesmo faltando dois anos para a disputa nacional, os pré-candidatos se assanharam e começaram a estabelecer uma série de articulações. O ex-ministro Sérgio Moro, em entrevista, apontou vários nomes que poderiam confrontar o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, enquanto o apresentador Luciano Huck se encontrava com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para avaliar o cenário nacional.

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O discurso recorrente é emblemático. No entendimento desses atores, as lideranças que atuam no limite estariam perdendo respaldo das ruas em favor de políticos com perfil moderado, em decorrência do clima de polarização que se estabeleceu em alguns países, e o Brasil é um deles.
Fechadas as urnas do dia 15, ou do dia 29, não há dúvidas de que a discussão vai se aguçar, embora ainda haja um longo caminho a ser trilhado. O país tem prioridades, como o combate à pandemia, e colocar a sucessão na agenda de forma tão prematura pode ter seus contratempos. Os políticos mineiros entendem, e não é de hoje, que ficar muito tempo no sereno dá problemas, isto é, quem se expõe com tamanha antecedência pode ganhar visibilidade, mas também vira vidraça.

O ex-ministro Ciro Gomes, que certamente voltará ao palanque em 2022, já deu a senha. Chamou Moro de radical de direita e disse que Huck não tem perfil para ser candidato. Exagerou no caso do apresentador, mas já demonstrou que o embate não será tranquilo.

Quando foi eleito pelo Colégio Eleitoral, num pleito indireto, mas que sinalizou o fim do regime militar, o então governador Tancredo Neves passou anos atuando nos bastidores, costurando acordos e formando uma base sólida no Congresso. Hoje, com tempos digitais, o modelo pode ser outro, mas a prudência, como canja de galinha, continua sendo um bom remédio para quem tem pretensões de chegar ao topo do poder sem queimar etapas.

O melhor a fazer é esperar o resultado das eleições de domingo, pois dela emergirão várias lideranças que podem ter um papel importante no pleito de 2022, especialmente os eleitos nas capitais e nas cidades-polo, nas quais o jogo de poder tem repercussão direta nos gabinetes de Brasília.

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