Por baixo dos panos
Está em curso no Congresso Nacional uma articulação envolvendo todos os partidos para anistiar o caixa dois, considerando que os fatos pretéritos devem ser esquecidos, para o surgimento de uma nova ordem, isto é, o que passou passou, e bola para frente. Mas há divergência até mesmo entre os atores políticos, pois há os que consideram que o caixa dois tem suas nuanças: para uns, foi uma fonte de recursos pessoais, para engordar contas na Suíça; para outros, apenas um meio de financiar as caras campanhas eleitorais.
De fato, há essa diferença, mas caixa dois é caixa dois, e a anistia impede, inclusive, a avaliação da Justiça dos casos notoriamente frutos da conjuntura das campanhas daqueles de saque ao Estado para enriquecimento próprio.
De qualquer forma, a anistia ampla geral e irrestrita pregada pelos parlamentares não resolve o problema. O caixa dois, a despeito de tantas peculiaridades, é um problema público, por implicar, inclusive, sonegação de impostos por não estar contabilizado. E o dano está na ponta: hospitais sucateados, longas filas nos postos e estados sem recursos para gerenciar seus projetos. O caixa dois, portanto, não é apenas uma questão paroquial dos políticos. Suas implicações são graves e não podem passar em branco.
O que ora ocorre por baixo dos panos é uma saída para quem não quer, de fato, resolver essa questão. O financiamento de campanha, ora vedado às pessoas jurídicas, ainda não é uma demanda resolvida. No projeto de reforma política que continua empacado nos gabinetes da Câmara e do Senado, é preciso estabelecer medidas claras, que deem fim a esse velho impasse.