Ficar ou sair?

Programa Minas Consciente é colocado em xeque por setores políticos e empresariais que acreditam que o município tenha condições mais adequadas para avaliar o que fazer diante da pandemia


Por Tribuna

10/07/2020 às 06h47

Ao lado do debate em torno das ações de combate à pandemia do coronavírus, é possível perceber uma profunda discussão política que tende a se amplificar com a aproximação do período de campanha. Embora o pleito de novembro seja eminentemente local, o embate se aguça por estarem os prefeitos na linha de frente das ações oficiais contra a contaminação. Os especialistas já apontaram que a pandemia será o tema central dos palanques, mas tal dado traz consigo o envolvimento de atores em todas as frentes.

Ontem, ao participar de uma solenidade em que o Estado entregava uma nova ala do hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, o governador Romeu Zema aproveitou para responder ao secretário de Saúde da capital, que, na última segunda-feira, disse que o chefe do Governo não gostava dos belo-horizontinos, tal o descaso como a cidade estava sendo tratada no repasse de recursos. Zema foi direto: “Quem faz não está reclamando” e garantiu que não faltarão leitos em Belo Horizonte no que depender de sua administração.

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Mas o embate não se esgota nos limites da capital. O programa Minas Consciente, criado pelo Governo e encampado por cerca de 170 cidades mineiras, entre elas Juiz de Fora, não é uma proposta unânime, bastando olhar o grau de adesão num estado com 853 municípios. Vários prefeitos entenderam ser melhor tomar conta do próprio espaço, por conhecerem de perto suas demandas.

Não foi esse o entendimento do prefeito Antônio Almas, que viu na iniciativa uma ferramenta importante para direcionar as ações de combate à Covid-19, mas até mesmo aqui há resistências. Logo no início, o setor econômico advertia que era melhor tratar do problema com o olhar local, pois a cidade tem características próprias, enquanto o Estado tem uma visão global. Como Minas são muitas, os empresários entendiam, e continuam entendendo, que a região tem meios mais adequados para tratar do problema.

A mais recente manifestação vem da Câmara Municipal. A partir de um requerimento aprovado no fim da semana passada, pedindo a desfiliação da cidade do Minas Consciente, a discussão avançou, e os vereadores querem conversar diretamente com o prefeito sobre o assunto. O entendimento dos edis é basicamente o mesmo dos empresários: a cidade tem meios clínicos e técnicos para avaliar melhor a situação do que o Estado. A reunião pode ocorrer nos próximos dias.

O ponto central é verificar prós e contras de uma decisão de tal monta. É fato que o município conhece melhor suas demandas, mas as regras estabelecidas pelo Minas Consciente dão margem a ações integradas com outros municípios, sobretudo do entorno, embora nem todos tenham aderido ao programa. Por ser polo e ter pactos de atendimento com várias prefeituras, a cidade recebe uma demanda extra de pacientes.

De qualquer modo, discutir nunca é demais, e é fundamental que as duas casas conversem sobre o que é melhor para a população. O que não deve é tratar o assunto sob a ótica pré-eleitoral, pois, nesse caso, o debate estaria comprometido por interesses além do que demandam as ruas.

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