A luta de Marielle
A busca por respostas do caso de Marielle é de todos e passa pelo fim da impunidade
O assassinato de Marielle Franco completou mil dias nessa terça-feira, dia 8. Uma das vereadoras mais votadas do Rio de Janeiro em 2016, ela foi morta a tiros na noite de 14 de março de 2018, quando o carro em que ela e o motorista Anderson Gomes estavam foi emboscado. Nascida e criada em favela, ativista de direitos humanos, engajada na luta antirracista, nas pautas feministas e LGBTQIA+, Marielle encarnou no país uma luta que não começou com ela e parece não ter prazo para acabar: a luta por paz e justiça.
Marielle virou caso emblemático, mas o Brasil está cheio de Marielles esperando por respostas. Um levantamento do Instituto Sou da Paz divulgado recentemente aponta que 70% dos homicídios no Brasil não foram solucionados entre 2017 e 2018. A impunidade é uma marca triste para um país que convive, há anos, com episódios de mortes violentas, muitas vezes sem sentido, como as que ocorreram no último fim de semana, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. As primas Emily Victória e Rebeca Beatriz, de 4 e 7 anos, respectivamente, foram mortas durante um tiroteio. Estavam brincando na porta de casa quando foram baleadas e não resistiram aos ferimentos.
Em Juiz de Fora, foram registradas 65 mortes violentas em 2019, quase 30% a menos que as 90 contabilizadas no ano anterior. Na análise dos números para a Tribuna, o titular da Delegacia Especializada de Homicídios afirmou que a redução dos assassinatos está relacionada, entre outros, à consistência dos inquéritos policiais, capazes de tornar os julgamentos mais céleres e efetivos. A lógica é simples: se a população passa a perceber a efetividade na apuração e na resolução dos casos, passa a colaborar com as investigações e a acreditar mais na polícia e na Justiça. Por outro lado, a capacidade de o Estado dar respostas rápidas à apuração dos crimes e à punição dos culpados serve como desestímulo à prática criminal.
A contagem dos mil dias do assassinato de Marielle que se viu nas redes sociais é simbólica. Revela o apelo de uma sociedade que anseia por respostas, por nomes, por justiça. Até agora, a investigação conseguiu responder que coube ao policial militar reformado Ronnie Lessa disparar a arma e ao ex-PM Élcio Queiroz dirigir o carro que tocaiou a vereadora e seu motorista. Eles estão presos. Mas os mandantes ainda não foram descobertos. Por isso a pergunta insistente: quem mandou matar e por quê? É uma resposta importante não só para o caso de Marielle. É uma resposta importante para que se garantam a crença e a credibilidade na Justiça brasileira.