Processo eleitoral

A nova etapa da campanha com a propaganda no rádio e na televisão é importante para dar visibilidade aos candidatos, mas carece de aperfeiçoamento, sobretudo por não dar margem ao contraditório


Por Tribuna

09/10/2020 às 07h00

Mais uma etapa da campanha eleitoral começa nesta sexta-feira com os programas obrigatórios nas emissoras de rádio de televisão, ocasião em que os candidatos terão a chance de se apresentar ao eleitor e mostrar suas propostas de trabalho. O formato de 2020 é diferente. Nas rádios, os dois horários se dividem entre 7h e 7h10 e das 12h às 12h10. Na televisão, das 13h às 13h10 e das 20h às 20h10. O que antes eram programas de uma hora agora são de apenas dez minutos, mas ao curso das programações serão feitas inserções durante os intervalos comerciais.

A propaganda eleitoral é uma oportunidade única de se tornar conhecido, embora nem todos, diante da divisão do tempo, estejam no ar. Outros terão tempo mínimo para dizer seu nome e número e propostas básicas para seu projeto. Mas ainda é melhor do que em outros tempos. Quando ministro da Justiça, o advogado Armando Falcão definiu que o horário eleitoral deveria ser levado ao ar sem voz, isto é, apenas o rosto e o número dos candidatos eram mostrados na TV, enquanto no rádio uma voz dizia apenas o nome e o número. A Lei Falcão era fruto de uma época marcada pela mordaça.

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Hoje, o horário tanto ajuda quanto revela. O eleitor, com o forte manancial de informações, tem meios de perceber quem está vendendo projetos consistentes e quem está apenas jogando para a arquibancada. Muitas promessas são impraticáveis; outras, equivocadas, sobretudo quando se fala em prerrogativa. É comum ouvir ou ver candidatos a vereador apresentando uma agenda que extrapola suas atribuições, tipo asfaltar ruas ou fazer obras. Ao vereador cabe fazer leis e fiscalizar os atos do Executivo, quando muito intermediar anseios da população. Realizar, não.

É a esse modelo de discurso que o eleitor deve estar atento, pois muito do que se promete ora é fruto de desconhecimento do próprio candidato, ora é um ato deliberado, visando apenas convencer as ruas.
Em tempos de pandemia, quando não é possível qualquer aglomeração, a propaganda eleitoral é uma alternativa, mas esta também carece de aperfeiçoamento. Hoje, boa parte dos acordos políticos é forjada não por aproximação ideológica, mas para capitalizar tempo de propaganda. O fim das coligações proporcionais resolveu apenas parte do problema.

Ademais, em tempos de redes sociais, o horário político perdeu o sentido inicial, que era de apresentação das candidaturas e espaço de divulgação dos projetos. Sua audiência tornou-se inócua, sobretudo por não dar margem ao contraditório. Cada um fala o que quer, sem qualquer espaço de contestação. E isso é um problema.

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