O dia seguinte
Instituições reagem ao discurso do presidente, e partidos se reúnem para tratar de um possível impeachment, que poderia ampliar ainda mais a polarização
Como já era esperado, o dia seguinte ao 7 de setembro foi de reação de diversas instituições, especialmente o Supremo Tribunal Federal, por meio de um duro discurso de seu presidente, Luiz Fux. O ministro, no mesmo tom do presidente Jair Bolsonaro, foi enfático ao assinalar que o STF não será fechado e que seus integrantes continuarão atuando em defesa da Constituição. O presidente da Câmara, Arthur Lira, que há tempos mantém um silêncio tático, foi menos enfático, mas classificou de bravatas as ações e as reações que levaram ao clima de beligerância dentro das estruturas de poder. Seu discurso, no entanto, ficou no meio do caminho, por chegar com certo atraso a despeito da subida de temperatura que já ocorre há algum tempo. O silêncio do presidente da Câmara, se quebrado, poderia ter estabelecido um marco diferenciado nas relações.
Agora em campo, os bombeiros levaram para o Parlamento os efeitos do feriadão. Partidos políticos reuniram suas executivas e já anteciparam que haverá consequências, embora nem todos defendam esticar a corda ao limite, o que seria a abertura de um processo de impeachment do chefe do Governo. Boa parte entende, a despeito da gravidade da fala do presidente, que abrir um processo quando falta um ano para as eleições seria ampliar o impasse que ora paira no país.
Há uma certa razão nesse argumento, pois as urnas são o melhor caminho para a correção de rumos. O impeachment, além de ser um processo demorado, iria fragilizar os próximos mandatos, por formar um consenso de que seria o único caminho para a troca de mandatários. O país já tirou Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff e, se fizer o mesmo com o atual presidente, daria margem para esse argumento.
O ponto crucial é acompanhar os próximos passos do presidente, por serem determinantes para as instituições. Se ele mantiver o discurso no extremo, dará claras justificativas para o Congresso se mobilizar. Se baixar o tom, há a possibilidade de reduzir a pressão que ora paira sobre diversos setores, como a própria economia. Os mercados, sempre sensíveis a solavancos, já deram o primeiro sinal com queda na bolsa e valorização do dólar, dois componentes que pesam na já alta inflação.
Com quase 600 mil mortos por uma pandemia, que ainda não acabou, e uma inflação em escala ascendente, além do desemprego desenfreado, o país tem prioridades que precisam ser abarcadas pelas lideranças. Antecipar uma discussão própria de ano eleitoral é o pior dos mundos, pois, diante de tanta intensidade, não há vencedores.
Instituições reagem ao discurso do presidente, e partidos se reúnem para tratar de um possível impeachment, que poderia ampliar ainda mais a polarização.