Fora dos autos
Embate entre ministro e procurador em nada ajuda as investigações e acaba comprometendo o processo de passar o país a limpo
O estilo adotado pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, e pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de levar o discurso ao extremo em detrimento dos autos, não medindo, sequer, os adjetivos em suas entrevistas, em vez de apontar para a transparência, tornou-se um problema com viés próximo ao institucional. Ambos estão no topo da carreira e, pela experiência, já deviam ter se atentado para os riscos. Janot tem flechas e bambus; Gilmar, a língua solta. Sua mais recente performance ocorreu na segunda-feira, durante entrevista à Rádio Gaúcha de Porto Alegre. Para o ministro, Janot “foi o procurador mais desqualificado que já passou pela história da procuradoria”.
Trata-se de uma opinião pessoal, mas que ganha contornos preocupantes quando a declaração ocorre um dia após o ministro ter jantado com o presidente da República, outro desafeto de Janot, e por ele ter sido denunciado no escândalo da JBS. Certamente, o tema foi a peça de resistência no jantar no Palácio do Jaburu.
Já está longe o tempo em que juízes e promotores só falavam nos autos. A operação Lava Jato colocou em evidência procuradores e ministros, alguns deles sem compreender, de fato, o papel que desempenham, preferindo ficar permanentemente sob as luzes em detrimento do conteúdo dos processos.
Tais personagens em nada ajudam as investigações. Ao contrário, por seu protagonismo além dos próprios fatos, lançam desconfiança para a opinião pública, que fica em dúvida se estão, de fato, desempenhando o seu papel ou o de personagens de olho no próprio sucesso ou ainda numa eventual carreira política.