Caminho do meio
Busca por uma terceira via
torna-se problemática quando os nomes mais citados não se mostram dispostos a caminhar pela mesma trilha, o que facilita, ainda mais, a polarização
A primeira semana da CPI da Covid é uma prévia do que pode ocorrer quando o discurso, ora desenvolvido no Senado Federal, for para a Câmara dos Deputados e, especialmente, para as ruas em decorrência das eleições gerais de 2022. Governistas e oposicionistas têm jogado suas fichas nas oitivas, muitas delas marcadas pelo constrangimento dos convidados em meio aos constantes bate-bocas entre os senadores. O desfecho é inimaginável, pois a única certeza em CPIs é o seu começo. O final, não.
Com fichas à mesa, os dois lados defendem seus pontos de vistas não necessariamente para apurar as causas de mais de 410 mil mortes, mas para marcar posição e implantar o desgaste para seus adversários. A oposição imputa a responsabilidade ao Governo, enquanto a base, por sua vez, tenta repartir o ônus com prefeitos e governadores.
Em meio a esse enfrentamento, há nos bastidores uma corrida eleitoral que já se antecipa como polarizada, sobretudo pelo perfil das duas principais candidaturas – Jair Bolsonaro e Lula já saem na frente nas pesquisas – e pela incapacidade dos demais postulantes em forjar um nome com o viés de terceira via. Os tucanos têm prévia no dia 17 de outubro, mas têm problemas já na definição da data. Os pré-candidatos Tasso Jereissatti e Arthur Virgílio querem a prévia somente em 2022, contrapondo à proposta do governador de São Paulo, João Doria, defensor de outubro. O quarto postulante, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, disse que qualquer data está boa para ele.
Mas a terceira via não é um dado real ante a pré-candidatura do ex-ministro Ciro Gomes. Desde 2018, ele está em plena campanha para a Presidência da República e busca aliados em outras legendas. Com ele no páreo e um nome tucano, o Centro já sai dividido na primeira rodada. Há, ainda, outros interessados que podem ampliar a fragmentação, como o apresentador Luciano Huck.
Há, é fato, tempo suficiente para depurações no processo, mas o início indica que Bolsonaro e Lula elevaram o sarrafo por conta da polarização que interessa a ambos, criando embaraços para os demais pré-candidatos, que não demonstram qualquer interesse em uma chapa única para ficar no caminho do meio.
Política, no entanto, como dizia o ex-governador Magalhães Pinto, é igual nuvem: a cada momento está num lugar, o que abre possibilidade para muitas especulações. Ademais, o mundo vive um momento atípico, que gera incertezas em todas as frentes, e política não é exceção.