Dia de discussão

O Dia Internacional da Mulher tornou-se uma agenda permanente da sociedade, por não haver mais sentido a adoção de restrições com base em gênero, deixando à margem as principais questões


Por Tribuna

08/03/2020 às 06h59

Embora tenha sido um movimento de causas difusas, com temas de toda a ordem levados para as ruas, as manifestações de 2013 deixaram algumas lições. Uma delas foi o empoderamento feminino. Mesmo já tendo se iniciado em outras épocas, ele, no caso brasileiro, deixou claro o papel das mulheres em algumas instâncias, até bem pouco tempo infensas à sua participação.

Enquanto os atos se desdobraram numa inquietante divisão ideológica, o empoderamento se manteve num único patamar. A cobrança por políticas públicas, o questionamento às recorrentes posturas morais e econômicas que ainda colocam a mulher em segundo plano e, sobretudo, a cobrança por medidas de Estado contra a violência continuam na agenda.

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Na política, há um forte movimento para definição de um número mínimo de mulheres nos parlamentos. A única regra estabelece uma cota de 30% nas chapas, que se mostrou ineficaz e matriz de fraudes, como a própria Justiça Eleitoral pôde atestar com as chamadas candidatas laranjas.
Há razões para celebrar o Dia Internacional da Mulher, mas a data deve servir menos para festas e mais para reflexões, uma vez que ainda há um longo caminho a ser trilhado.

Um levantamento do Monitor da Violência, uma parceria do site G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, indicou que, a despeito da queda recorde de morte de mulheres no Brasil, o número de feminicídios continuou em alta em 2019. Foram 3.739 homicídios dolosos – nos quais há a intenção de matar -, indicando uma queda de 14,1% em relação a 2018, mas nos casos de feminicídios – crimes de ódio motivados pela condição de gênero – a taxa subiu 7,3%.

Alguns especialistas entendem que o número de crimes continua aumentando no país, e o feminicídio entra no pacote, mas outros consideram que o que aumentou foram as notificações. As mulheres – de novo o empoderamento – estão perdendo o medo de denunciar, e mesmo aquelas que se silenciavam diante do medo ou de perder algum tipo de benefício já estão mudando a sua postura.

Reverter esse cenário é um projeto coletivo da sociedade que só se consolidará com discussões, medidas isonômicas, conscientização e aprimoramento da legislação. Em tempos de tantas mudanças na agenda global, essa questão é prioritária, pois está incorporada ao dia a dia, não havendo tempo para esperar.

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