Novos tempos
O 5G pode mudar o modelo de comunicação, mas é necessário garantir acesso coletivo e uma legislação capaz de assegurar o uso correto das novas ferramentas
Quando o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, encabeçou o processo de privatização da telefonia no país, na gestão Fernando Henrique Cardoso, não se tinha ideia das consequências. O debate se centrou em denúncias de corrupção, mas o tempo mostrou como o país estava atrasado. Em Juiz de Fora, houve um período em que, para uma simples ligação, esperava-se quase cinco minutos até se obter uma linha. Havia demanda de usuários, mas a capacidade de distribuição era precária, e o preço dos aparelhos, alto, a ponto de ser um bom negócio para donos de linha, que, com o seu aluguel, ganhavam rios de dinheiro. Eram tempos analógicos.
O leilão do 5G, encerrado na última sexta-feira, aponta para uma nova realidade: o país terá meios de se inscrever no fórum das nações com uma tecnologia de ponta, capaz de ampliar a percepção do tempo real e com qualidade bem além dos 4Gs atuais. As conexões serão mais rápidas, e a internet das coisas poderá chegar a outros segmentos.
A partir daí, há espaços para indagações. A primeira está no contrato, obrigando as empresas a dotarem escolas da rede pública de conexões atualizadas e eficientes, o que hoje é um problema pelo país afora. Esse atendimento, além do mais, deve alcançar o país como um todo, e não apenas as regiões privilegiadas, como Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Outro ponto importante passa pela segurança das novas redes, a fim de garantir a privacidade dos usuários. Hoje, de acordo com o expressivo número de registros, há uma exposição perigosa de dados, facilitando, é fato, os atos de comércio, mas também dando margem para ações fraudulentas. Os usuários da rede mundial correm o frequente risco de terem suas informações vazadas sem que haja, ainda, uma legislação eficiente para coibir os atos ilícitos. O mundo do crime está sempre um passo à frente.
A pandemia, sobretudo na sua fase mais aguda, apontou para uma outra questão: os custos das conexões e a capacidade de acesso. Boa parte dos brasileiros sequer utiliza o 4G, ora por questão de não ter equipamentos, ora pelo preço das conexões. Para expressiva parcela da população, o acesso ainda é impraticável. O trabalho remoto, que alavancou ainda mais o setor, foi prova material desse problema, a começar pela educação. Nem todos os alunos tiveram condições de acompanhar as aulas por mera questão financeira. Uns tinham o telefone, mas sem acesso a dados. Outros, nem isso. A implementação da rede na escola foi, de fato, um avanço.
Quando se fala em segurança cibernética é preciso ficar atento aos desdobramentos do avanço tecnológico, pois traz também a mazela das fake news. Com ferramentas mais sofisticadas, os produtores da falsa informação também ganham mais eficiência. A segurança e uma legislação moderna são prioridades.