Dependência digital

O apagão de segunda-feira, quando pelo menos três bilhões de pessoas pelo mundo afora ficaram sem acesso às redes sociais, é uma prova da extrema dependência da contemporaneidade por algumas plataformas. Não foram apenas conversas de grupos que foram interrompidas. Se fosse apenas isso, o fato poderia ser visto apenas como uma pausa no frequente debate, mas houve implicações econômicas, já que muitos negócios, hoje, dependem, especialmente, do WhatsApp. Na edição dessa quarta-feira, a Tribuna mostrou relatos de empresários do comércio que tiveram prejuízo em decorrência da pane.

O mundo digital mudou comportamentos e negócios, e as relações interpessoais ganharam um novo modelo, sobretudo por conta da sistemática divulgação do sucesso. Plataformas como o Instagram, por exemplo, são espaço de boas novas, isto é, os usuários se apresentam nos momentos em que estão felizes, ora numa viagem, ora na compra de um carro ou de um imóvel. Enfim, as mazelas não são expostas, e as consequências são um mundo irreal, cuja repercussão se dá, especialmente, na saúde mental de uma expressiva parcela de usuários que se vê apartada desse cenário de felicidade.

O bug do início da semana dá margem a reflexões. A primeira passa pelo viés técnico, pelo qual, diante da irreversibilidade do avanço tecnológico, é necessária a criação de estruturas capazes de evitar o caos que se formou ao afetar quase metade da população do planeta. Para garantir a comunicação, ferramentas consideradas fora de moda foram acionadas, como o MSN, que, se não salvou negócios, pelo menos garantiu a realização de contatos necessários à rotina do dia a dia.

A segunda questão, porém, é a mais importante: é necessário avaliar o papel das redes sociais na formatação da sociedade do século XXI. O uso, em alguns casos, tornou-se um vício, enquanto, em outras situações, é um processo de negócios, comunicação e aproximação entre pessoas. A internet mudou comportamentos, pois o que era para amanhã tem que ser realizado no agora. A impaciência é uma das consequências nas relações pessoais induzida pela pressa dos novos tempos.

Não se trata, porém, de um dado que possa ser visto apenas pelo olhar negativo. Ao contrário, o mundo digital é uma conquista que tende a se aperfeiçoar ainda mais ante sua importância em todas as frentes. Deve, porém, ser sistematicamente observado, pois há, também, o uso indevido, no qual biografias são descontruídas enquanto a desinformação se torna um instrumento de poder.