Efeitos colaterais
O jogo de conveniências políticas para a montagem de chapas tem consequências, já quem nem sempre os interesses das cúpulas nacionais são os mesmos dos diretórios estaduais ou municipais
Terminado o período de convenções – embora ainda falte o registro das candidaturas, até o dia 15 -, os partidos partem para uma nova etapa em busca da adesão do eleitor. Entretanto, entre uma questão e outra, há margem para avaliar as perversidades do modelo eleitoral do país, que ainda carece de uma reforma capaz de impedir os chamados danos colaterais. Ao curso das conversas para elaboração de alianças e formação de chapas, muitos postulantes acabaram ficando no meio do caminho, enquanto outros tiveram seus projetos desmontados em razão de acordos nacionais.
Em Minas, o senador Carlos Viana esteve no meio do furacão logo que lançou sua candidatura a governador de Minas. Seu nome esteve na bandeja quando o Planalto ensaiou uma aproximação com o governador Romeu Zema. Ante a não concretização das negociações, o senador voltou ao palanque com o aval do presidente da República, que busca a reeleição e, para tanto, carecia de um palanque em Minas Gerais. Mas houve danos. O deputado Marcelo Álvaro Antônio, que já foi ministro, era candidato ao Senado, mas a opção acabou ficando com o deputado estadual Cleitinho Araújo, do PSC, partido, aliás, que, em vez de Viana, vai apoiar o projeto de reeleição do atual governador. Entre perdas e danos, o próprio Cleitinho se viu numa posição surreal. Quando as conversas com o PL avançaram, ele fez duras críticas ao governador de Minas. No entanto, a direção estadual, ao garantir apoio a Zema, o deixou numa situação incômoda, ainda mais pelo fato de o nome apoiado pelo governador para o Senado ser do deputado Marcelo Aro.
Quando o ex-ministro e ex-governador Magalhães Pinto era questionado sobre os rumos das articulações, ele dizia que política era igual nuvem: a cada hora estava num lugar. Nunca foi tão atual sua observação, que deve servir de lição para os próprios políticos. Quem queima os navios corre o risco de ficar sem a opção da volta, e na política isso acontece a todo momento. Basta ver o papel do Centrão. Desde a redemocratização, que começou com Tancredo/Sarney, nenhum Governo administrou o país sem o seu apoio, embora todos, em algum momento, tivessem feito duras críticas ao modus operandi do grupo.
No processo de formatação de chapas não é diferente. Acordos são feitos e desfeitos de acordo com conveniências. Na semana passada, o presidente do Cidadania, João Vítor Xavier, fez duras críticas ao PSDB, só poupando o seu candidato Marcus Pestana. No entanto seu partido está federado com os tucanos. O impasse surgiu quando o radialista Eduardo Costa, filiado ao Cidadania, teve que abrir mão do convite do governador Romeu Zema para ser seu vice na chapa aprovada em convenção. Costa desistiu atirando, mas já sabia, com antecedência, que sua candidatura estava morta na origem, já que seu partido, aliado ao PSDB, tinha candidatura própria ao Governo de Minas com o ex-deputado Marcus Pestana. Por isso, foi mais um que ficou pelo caminho.
Até o registro das candidaturas, cujo prazo ainda está correndo, muita coisa ainda pode acontecer, pois a dinâmica da política é um ato constante, num cenário em que, paradoxalmente, as cúpulas nem sempre têm os mesmos interesses dos diretórios estaduais, que, por sua vez, também encontram contradições na sua relação com os diretórios municipais. É o jogo jogado.