Entre a cruz e a espada
Recuo de Juiz de Fora à onda vermelha pode ser um acatamento aos dados da saúde, mas é um grave problema para a economia numa época crítica de fim de ano
Salvo mudanças, a cidade entra, nesta segunda-feira, na etapa mais dura do Minas Consciente, implantando a onda vermelha. Esta prevê o fechamento de bares, restaurantes, salões de beleza e bancas de jornais, entre tantos outros serviços, para reduzir os índices de proliferação do coronavírus. Pelo lado da ciência, é um gesto de coragem; pelo lado da economia, um desastre, pois acontece numa etapa crítica, às vésperas dos festejos de fim de ano. No fechamento deste editorial, as conversas continuavam, após uma convocação extraordinária formulada pelo Executivo.
A onda tem data de validade, podendo até ser revista na próxima reunião do comitê, na quinta-feira, mas a incerteza é um problema, especialmente para o comércio, que está na fase de contratação de mão de obra e de formação de estoques. Executar tais operações sem garantias é temerário, sobretudo num tempo em que tudo está difícil.
A cidade, é fato, está na mesma trilha do país, ostentando números ascendentes de ocupação de leitos, até mesmo no setor privado, e carece de tomar medidas para evitar o caos. Para tanto, porém, a discussão tinha que ser mais ampla, com a participação de outros atores, inclusive populares, pois o controle precisa de pleno envolvimento para dar certo.
A Prefeitura não tem estrutura suficiente para fiscalizar uma cidade do porte de Juiz de Fora, e, sem outros agentes, suas ações ficarão restritas a determinados pontos, enquanto outros vão continuar burlando as recomendações sanitárias. O prefeito Antônio Almas, é fato, já vinha alertando para tal possibilidade há algum tempo, mas sustentar a decisão apenas com o Comitê de Enfrentamento à Covid-19, no atual cenário, é preocupante.
Ele e o comitê têm plena gestão até o dia 31 de dezembro, mas seria razoável discutir o tema também com a próxima administração, antes de bater o martelo, pois as consequências de hoje vão ocorrer no próximo Governo, sobretudo por conta de a pandemia não ter data marcada para acabar.
O momento é crítico e, entre e a cruz e a espada, aponta que as autoridades nacionais não têm lidado da melhor forma para enfrentar a doença. Minas continua sendo um dos estados com menor número de testagens, e a ampliação de leitos não se dá de forma equânime. Há, portanto, várias falhas no processo que acabam comprometendo as políticas de isolamento que estão além do trabalho do setor econômico.
Uma segunda questão é saber se a microrregião liderada por Juiz de Fora seguirá a mesma decisão. Caso contrário, viveremos situação pretérita, quando as restrições envolveram os locais, enquanto o entorno continuou mandando para cá os seus pacientes.