Jogos de poder

Democratas e republicanos têm visões de mundo diferente, mas não são tão divergentes quando se trata de suas relações econômicas com os outros países


Por Tribuna

05/11/2020 às 06h58

Seja qual for o resultado das eleições nos Estados Unidos, há leituras a serem feitas. Para o público interno, fica explícita a necessidade de aperfeiçoamento do modelo de votação, pois o impasse jurídico ensaiado pelos dois candidatos – confirmado ou não – não é inédito. Quando derrotou o democrata Al Gore, nas eleições de 2000, o republicano George W. Bush teve que esperar a recontagem dos votos na Flórida, embora essa operação tenha sido interrompida pela Suprema Corte, consolidando a sua vitória. Os ministros entenderam ser a única saída para não gerar impasses na maior democracia do mundo, que pode, agora, voltar ao centro das discussões.

O resultado, porém, a despeito de influência em outras agendas, pouco deve mudar nas relações econômicas dos EUA com o Brasil. Quando se trata de seus próprios interesses, os americanos, democratas ou republicanos, caminham pela mesma trilha. A proteção aos seus interesses tem sido marca registrada até mesmo em gestões progressistas, como as de Bill Clinton e Barack Obama. Daí, pensar que a vitória de um ou outro poderá trazer problemas para o país não é um fato consolidado. Há relações de comércio que, certamente, serão mantidas, embora muitas delas, dependendo do vencedor, possam demandar mais atuação da diplomacia.

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Em tempos globais, o mercado tem sido o regulador das atividades econômicas. O embate entre americanos e chineses, que polariza a discussão entre os demais países, induzidos a fazer escolhas, é mero jogo de poder e de interesses econômicos quando envolve as duas potências. Agora mesmo, a implantação do 5G digital tornou-se uma queda de braço. Há, é fato, controle de dados, mas o ponto mais importante é qual empresa será a principal responsável por sua implantação. Os dois países sabem quanto de dinheiro isso envolve e não abrem mão, justificadamente, de buscar aliados. É do jogo, mas brigam no olhar externo, embora continuem fazendo negócios entre eles.

O último presidente dos EUA a ter atuação ativa nos interesses da América Latina, especialmente no Brasil fora do viés político, foi o democrata Jimmy Carter. Como o país estava sob regime militar, ele fez forte pressão em torno dos direitos humanos, para irritação do então presidente, general Ernesto Geisel. Depois dele, vieram Clinton, Bush, Obama e Trump. Saíram do modelo big stick, mas não abriram mão de seus interesses.

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