Ciro, o amortecedor
Ministro toma posse anunciando como prioridade a missão de reduzir os enfrentamentos nas estruturas de poder
No seu discurso de posse como novo ministro da Casa Civil, o senador Ciro Nogueira (PP) se comparou a um amortecedor para minimizar os embates entre o Governo e o Supremo Tribunal Federal, chegando também ao TSE. “Se me permite a comparação um tanto fora dos protocolos, eu gostaria que toda vez que Vossa Excelência – dirigindo-se ao presidente Jair Bolsonaro – me visse, lembrasse de um amortecedor. Acho que é assim que o povo do meu país – os meus companheiros – espero que me vejam, porque assim eu vou ser útil ao meu país”, destacou.
Um dos mais proeminentes líderes do Centrão, o parlamentar chega ao Planalto num momento crítico, pois, também ontem, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, incluiu o presidente da República no inquérito das fake news por ataque às urnas. Mais lenha na fogueira e missão urgente para o novo ministro já na sua primeira semana de trabalho.
O papel de Ciro será fundamental para reduzir as zonas de conflito que se estabeleceram nos últimos dias envolvendo os poderes da República, cujos resultados chegam às ruas aguçando a polarização. Restando pouco mais de um ano para o próximo pleito, as articulações estão focadas nas urnas de outubro de 2022 num momento em que outras demandas deveriam ser prioridade.
A pandemia, a despeito do avanço do processo de imunização, ainda é uma perversa realidade, com o país chegando perto dos 600 mil mortos. O momento, com o avanço da vacinação, é de preparação do país para enfrentar as consequências da pandemia. Haverá também um passivo na saúde a ser enfrentado ante as consequências da doença. O mercado de trabalho ainda não se recuperou, e a economia, apesar da luz do fim do túnel, continua com desafios importantes pela frente.
Por tudo isso, o papel do ministro deve estar ajustado para atuar como algodão entre cristais, já que as partes estão indo para o enfrentamento. O TSE acionou o STF e aponta que não ficará inerte ante as críticas do presidente, e, nesse jogo de ação e reação, quem perde é o país, cujas demandas vão além do processo de discussão entre as instituições.
Experiência e interlocução não faltam ao ministro, um verdadeiro camaleão da política, que já esteve em outras trincheiras, inclusive na trincheira de Dilma Rousseff (PT). Ele acentuou que mudar de opinião não é defeito. E tem razão, mas é preciso, agora, na nova função, exercer o conhecimento que adquiriu ao participar diretamente dos dois lados: amortecer.