Debate inoportuno
Articulações voltadas para o pleito de 2022 são um contrassenso, sobretudo num cenário de pandemia, com mais de 250 mil mortos pelo coronavírus
Em entrevista, nesta quinta-feira, à Rádio CBN Juiz de Fora, o senador Carlos Vianna (PSD-MG) admitiu a possibilidade de entrar na lista de candidatos ao Governo de Minas, mas fez uma ressalva: essa conversa só deve entrar na agenda em 2022. Foi uma crítica direta às articulações de diversas lideranças políticas que até usam a pandemia do coronavírus para ganharem espaço nas discussões políticas. Não citou nomes, mas os próprios fatos mostram que o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, são os dois personagens mais em evidência.
Com esse argumento, o senador mineiro se colocou contra até mesmo a implantação de uma CPI para analisar os efeitos da Covid-19 no país, por entender que, além de não ter um propósito claro, ela serviria apenas para buscar culpados – o que, segundo ele, não seria adequado no momento – e para dar palanque a algumas figuras com as mesmas pretensões do presidente e do governador.
De fato, a pandemia tem servido de palanque para vários atores políticos, mas não dá para bancar o avestruz e esquecer as razões de o Brasil ter um dos piores índices na contaminação. É preciso avaliar responsabilidades, mesmo que no tempo mais adequado, pois a morte de mais de 250 mil pessoas não é um dado aleatório. O país foi um dos últimos a se convencer da letalidade do vírus e da tomada de decisões. Ainda hoje há fortes resistências à vacina a despeito de todas as evidências.
Quanto à sucessão, o senador tem razão. O país saiu das urnas há pouco mais de quatro meses, e não faz sentido voltar aos palanques com tamanha antecedência, embora seja comum a cultura de se manter tal agenda em tempo integral. Muitos dos eleitos nos pleitos municipais – prefeitos e vereadores – já estão se cacifando para o pleito de 2022, e o contrário também é verdadeiro, bastando ver os exemplos recentes. A sucessão municipal também conta com a participação de parlamentares.
Por conta dessa pauta permanente, há os que defendem eleições gerais de quatro em quatro anos, mas tal experiência se mostrou problemática por conta das próprias características dos pleitos. O municipal é voltado para avaliação de demandas locais, com discussões voltadas, sobretudo, para o interesse direto do eleitor. Já o pleito nacional tem um viés ideológico, que no Brasil tem sido marcado pelo maniqueísmo do nós contra eles, que beneficia extremos e tira do jogo lideranças que poderiam ter mais espaço nas urnas.