Difícil relação
Executivo e Legislativo estaduais vivem às turras por conta de projetos de interesse coletivo; impasses têm como pano de fundo as eleições do ano que vem
Em quase todas as recentes entrevistas – inclusive à Rádio Transamérica Juiz de Fora – o governador Romeu Zema tem se mostrado crítico à Assembleia, principalmente pela demora na discussão e votação de mensagens encaminhadas pelo Governo. Empresário bem-sucedido, tendo no mandato a sua primeira experiência eleitoral, ele ainda não se acostumou ao timing político, diferente do ritmo da iniciativa privada, na qual as decisões são bem mais rápidas.
Um dos pontos citados pelo governador é a mensagem que trata do acordo firmado com a Vale do Rio Doce, pelo qual a empresa responsável pela tragédia de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, em que morreram 270 pessoas e 11 continuam desaparecidas, comprometeu-se a pagar uma indenização de R$ 11 bilhões. A destinação dos recursos está exposta no texto, mas pode sofrer mudanças, no entendimento dos parlamentares.
Mais da metade vai para a obra do Rodoanel, que deve dar fim a um dos principais gargalos do trânsito da capital, mas há pontos polêmicos, como o repasse para troca da fiação elétrica da Cidade Administrativa – sede do Governo -, que também utilizaria parte dos recursos. A mesma mensagem destina verbas para a conclusão dos hospitais regionais, mas até mesmo esse ponto, a despeito de um consenso inicial, pode passar por correções. O deputado juiz-forano Noraldino Júnior, também em entrevista à emissora, observou que a verba seria mais bem empregada se fosse utilizada na duplicação da capacidade de atendimento dos hospitais públicos já instalados na cidade e melhoria nas unidades de atenção primária. Ele destacou, ainda, que o dinheiro servirá para a obra, mas não se fala no custeio do hospital, que requer recursos intensivos.
A destinação da indenização, no entanto, é apenas a face exposta da discussão. O embate entre Assembleia e Governo tem como pano de fundo as eleições de 2022. O governador, ao fazer críticas ao ritmo dos parlamentares, desvincula-se de desgastes próprios da instância política e passa ao eleitor a imagem de um realizador, que não participa do tradicionalismo político. Os parlamentares, por sua vez, consideram que o governador quer surfar sozinho na onda do dinheiro e de suas realizações, sem dividir o bônus com o Legislativo, que tem sido um parceiro importante na aprovação de matérias.
Na sessão da última quarta-feira, vários deputados se manifestaram, após ouvirem uma entrevista do governador ao programa ‘Pânico’, da Rádio Jovem Pan de São Paulo, no qual ele seguiu a mesma toada de críticas à Assembleia, mas isso é só começo. Em ano de eleição, a corda estica mais ainda, pois os mandatos do governador e dos deputados estarão em jogo.