Águas de março
Os temporais que continuam assolando a região Sudeste apontam para a inação dos governos, que, a cada ano, prometem investimentos que nunca saem do papel
O verão já começa a se despedir, mas as águas de março, mais do que em outros anos, continuam causando tragédias pelo país afora. No vizinho Rio de Janeiro, casas desabaram na Zona Norte, enquanto na Baixada Paulista os deslizamentos mataram dez pessoas, mas há desaparecidos. Os meteorologistas anunciam que a região Sudeste vai continuar sob o risco de fortes tempestades, sem qualquer data de dissipação. As explicações já estão incorporadas ao noticiário: mudanças climáticas e temperatura do oceano são as mais plausíveis.
Mas não cabe, porém, à meteorologia explicar tragédias. Nesta época do ano – em umas mais, em outras menos -, chove por ser a estação própria, mas nem assim as políticas de prevenção produzem os resultados esperados. Ou elas são precárias ou não existem. O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, preferiu jogar a conta na população, “que joga lixo nas ruas e faz ocupações desordenadas para poupar dinheiro”. Em São Paulo, o estado mais rico do país e, em tese, o mais preparado, os temporais desvendam a diferença entre o discurso e a prática.
A responsabilidade é coletiva. A despeito da antipatia do discurso, especialmente em ano eleitoral, o prefeito do Rio tem razão em apontar o papel da população. De fato, há o descarte irregular do lixo e ocupações sem respaldo legal, mas cabe ao Poder Público fiscalizar as duas ações, especialmente as ocupações, boa parte delas motivada por interesses políticos ou financeiros.
Entra e sai ano, e não há mudança na postura das lideranças, que deixam de fazer os investimentos adequados no tempo necessário e pouco investem em ações educativas. Embora não seja o caso de Juiz de Fora, boa parte dos mais de cinco mil municípios brasileiros tem um recolhimento de lixo precário, e poucos atuam para resolver o problema.
Juiz de Fora não está isenta de riscos. A despeito dos investimentos nas encostas, ainda há áreas que precisam ser atendidas. Os alagamentos ocorrem não apenas pelo entupimento das bocas de logo, mas também pelo assoreamento dos córregos. Encobertos pelas vias – o Córrego Independência é o caso mais emblemático -, há tempos não recebem serviços de limpeza, tornando-se fatores importantes nas inundações. O próprio Paraibuna não recebe as dragas de limpeza há vários anos. Seu leito é marcado por ilhas formadas pelo descaso e que contribuem para os alagamentos.
Março vai terminar, as chuvas irão passar, e o grave desse enredo é saber que pouco será feito para mudar esse cenário. No ano que vem, lamentavelmente, tem mais.