Desgaste de material

Partidos tradicionais estão perdendo espaço por não terem visão histórica de sua própria importância e por não se adequarem aos novos tempos


Por Tribuna

03/11/2020 às 07h00

As eleições deste ano em Juiz de Fora têm um dado inédito, mas sem causar surpresas: a falta dos partidos MDB e PSDB na lista dos postulantes ao comando municipal. Aliados desde a gestão Bruno Siqueira, perderam sua representação na Câmara Municipal e são meros coadjuvantes no processo que terá seu desfecho no dia 15 deste mês. A ciência política tenta compreender o fenômeno com base em evidências que foram se formando no decorrer dos anos.

Na cidade, enquanto o MDB era o ponto de concentração de todas as bandeiras de oposição, no tempo em que era o único antagonista da Arena, várias lideranças se revezaram no poder, mas foram raros os momentos em que tiveram afinidade. O MDB já teve o grupo do ex-presidente Itamar Franco, do ex-prefeito Tarcísio Delgado e do ex-deputado Sílvio Abreu. O PSDB, já fruto do período da democratização, se partiu em dois no passado recente, quando a divergência entre o ex-prefeito Custódio Mattos e o ex-deputado Marcos Pestana se acentuou.

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Esse fenômeno se replica pelo país afora e em várias legendas perante, primeiro, o excessivo número de siglas e, segundo, por uma característica comum: são formados em torno de nomes, e não de projetos ideológicos, ressalvadas as exceções. O personalismo, uma marca da política brasileira, tem cobrado um preço alto, sobretudo quando os líderes ou partem para herdeiros de sangue ou tentam se perpetuar no comando. Esse processo é visto não só nos rincões podres, apontados por Tancredo Neves, mas também pelo país afora. Os coronéis sem farda são personagens que perpassam a literatura e os compêndios. Em seu livro “Coronelismo, enxada e voto”, o historiador Victor Nunes Leal mostra o Brasil rural.

Ainda há os coronéis do asfalto. Mesmo apeados do poder, como José Sarney, no Maranhão, continuam dando ordem, definindo encontros e desencontros e colocando suas legendas a serviço do poder, desde, é claro, que haja alguma compensação. O presidencialismo de coalizão é o caldo de cultura ideal para esse modelo. Quem não negocia com tais forças não conclui o mandato ou não implementa sua agenda no Congresso.

Mesmo fora do poder, várias legendas – de esquerda, centro ou direita – continuam sendo capitaneadas pelos novos coronéis, o que acaba refletindo no desinteresse coletivo, especialmente dos jovens, pelo jogo partidário, incentivando, sobretudo, a demonização da política. Pelas redes sociais, foram criados novos modelos de atuação, desidratando legendas tradicionais, muitas delas com bons serviços ao país, mas incapazes de olhar para o futuro e a ele se adequar.

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