Ações e omissões

Ministro denunciou modelo de segurança do Rio, mas não apresentou provas do que falou aos jornalistas, embora haja indícios de veracidade


Por Tribuna

02/11/2017 às 06h30

Duas questões suscitaram dúvidas na fala do ministro da Justiça, Torquato Jardim, quando fez duro comentário sobre a segurança pública no Rio de Janeiro. Em entrevista ao jornalista Josias de Souza e reafirmada para outros jornais, ele classificou o modelo do estado vizinho como caótico, pois o secretário de segurança e o governador não têm comando sobre a polícia. Mais ainda, disse que os comandantes militares atuam em conluio com o crime organizado, o que faz deles parceiros do crime. O governador Luiz Fernando Pezão respondeu duramente ao comentário, mas evitou o confronto com o ministro, que é um dos patrocinadores de repasses para o Estado, exatamente para melhorar a qualidade da segurança pública.

Mas há pontos a considerar. O ministro não apresentou provas, transferindo o ônus para o governador e o secretário, que deveriam provar que ele, ministro, estava errado. Tal posicionamento, mesmo com a possibilidade de ser verdade, é um problema, pois colocou em xeque todo um modelo, dando margem para que os criminosos também duvidem das instituições. Mas há ainda o fato de o ministro, se de fato tem essa informação, ter se omitido. Como ministro da Justiça, a quem está subordinada toda a política de segurança pública do país, tem por obrigação tomar providências. Mas não o fez, ficando apenas na crítica, que, por si só, já é extremamente grave.

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O embate, porém, abre margem para discussão em torno do tema, pois a União também não está cumprindo a sua parte. O projeto nacional de segurança ainda não saiu do papel, sendo apenas uma peça de ficção, a despeito da necessidade premente de sua implantação. Os muitos episódios de violência são a prova clara de sua importância. Ademais, na última terça-feira, foi publicado o Mapa da Violência no país, e o Brasil ficou mal na fita. O número de homicídios está na mesma faixa do de vítimas da bomba atômica de Nagasaki, que deu fim à Segunda Guerra Mundial, quando cerca de 70 mil pessoas foram mortas.

No Brasil, o número de homicídios é mais expressivo do que qualquer conflito formal pelo mundo afora. São dados perversos e emblemáticos, sobretudo por não haver reação do estado e nem da própria população. Esta, salvo as exceções, age como se tais números fossem naturais. E não são.

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