Lideranças do amanhã
Projeto Câmara Mirim mostra a importância da boa política e acolhe demandas dos próprios estudantes, como a discussão em torno da saúde mental
Os estudantes que participam do projeto Câmara Mirim – etapa 2022 -, na sua mais recente atividade, na última quarta-feira, na Universidade Federal de Juiz de Fora, passaram por uma capacitação sobre o funcionamento do Legislativo, abordando também a divisão e o papel dos três poderes. A próxima edição retomará a discussão sobre a saúde mental dos estudantes, tema escolhido por eles próprios para o projeto deste ano.
A saúde mental é uma demanda que precisa ganhar aspectos de prioridade por ser um dado relevante em todas as instâncias. Sua colocação em pauta recupera discussões que deveriam ter sido feitas há décadas, pois não é de hoje que os transtornos têm influência direta na vida em sociedade. Por desconhecimento ou contingência do próprio tempo, o debate ficou em segundo plano. Os estudantes recuperam essa pauta e também se envolvem em discussões próprias do momento, como a política.
O projeto Câmara Mirim tem como mérito preparar os jovens para o debate político, bastante distorcido, sobretudo no período eleitoral. A demonização da política tornou-se uma rotina não apenas pelo desconhecimento, mas também por atores que, deliberadamente, a colocam como uma mazela em vez de um processo necessário à sociedade. Destaque-se, também, que há outros fatores, a começar pelo próprio modus operandi de uma expressiva parcela com mandato que faz da política um meio para benefícios pessoais em vez de um projeto de envolvimento coletivo. Os escândalos que permeiam a República nos últimos dez anos – para ficar só nos casos mais recentes – são resultado da ação de personagens que encamparam o discurso patrimonialista, misturando o público com privado.
A Câmara Mirim, que precisa chegar a mais estratos sociais, é um projeto a ser incentivado em outros legislativos, por jogar luzes nesse cenário de dúvidas que leva a sociedade a caminhos equivocados, inclusive na discussão da saúde mental, o tema central deste ano.
Na edição do dia 31, o professor Diogo Tourino abordou o papel do Legislativo. Trata-se de uma pauta importante, pois há distorções em torno do mandato e desconhecimento do trabalho do legislador. Muitos procuram um mandato para defender pautas que nem sempre são próprias do Legislativo. O horário eleitoral é a face mais emblemática dessas distorções, bastando ver as promessas de alguns candidatos.
Legislar e fiscalizar os atos do Executivo são premissas iniciais para estabelecer a relação das ruas com as instâncias de poder. Ao eleitor cabe o papel de escolher tais personagens. Por isso, num momento em que a política é demonizada, o eleitor deve estar atento às suas escolhas, pois é dele a responsabilidade final pelas ações e pelas inações que ocorrem nos parlamentos.
No dia 2 de outubro, além dos cargos de governador e Presidência da República, estarão em jogo cadeiras nas assembleias legislativas e na Câmara Federal e um terço do Senado Federal. A propaganda eleitoral tem como propósito apresentar os candidatos. Ao eleitor cabe o papel da boa escolha, pois os parlamentos são espaço prioritário para discussão das políticas públicas, entre elas a saúde mental dos estudantes.