Transparência na rede

Projeto de combate às fake news tem uma difícil jornada na Câmara Federal, podendo, ainda, ser vetado pelo Governo, que não se conforma com determinadas restrições


Por Tribuna

02/07/2020 às 06h35

Em sessão em que os senadores se dividiram, o Senado aprovou por 44 a 32 votos, na noite de terça-feira, o projeto que cria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, cujo alvo principal são as chamadas fake news. O texto, de autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania – SE), tem entraves pela frente tanto na Câmara Federal quanto no Palácio do Planalto. O presidente Jair Bolsonaro, falando a simpatizantes, admitiu a possibilidade de veto caso a matéria passe sem mudanças no Congresso.

O projeto já passou por várias atualizações ante o viés polêmico que apresenta. Tem aplausos e críticas de setores importantes, entre eles juristas e organizações da sociedade civil, por conta das restrições que impõe e, por outro lado, pelas concessões que faz, o que é do processo, cabendo ao Parlamento fazer as devidas correções, especialmente a Câmara, a principal caixa de ressonância das demandas da sociedade.

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Um dado importante é a necessidade de medidas de combate à disseminação de notícias falsas e de propostas de ódio, que se tornaram comuns na rede mundial. Biografias são desconstruídas por questões ideológicas, criando um cenário de incerteza para o público-alvo, que se deixa levar por informações muitas vezes distanciadas da realidade, mas capazes de danos irreparáveis ou consequências graves. O fenômeno de escala global mudou o olhar do mundo, com importantes repercussões em todas as instâncias.

A meta é evitar o uso inadequado das redes sociais, ponto de passagem de informações de todos os matizes. O usuário fica exposto a toda sorte de “informação” e, muitas vezes, deliberadamente ou não, pode se tornar um importante repassador dos dados recebidos. O projeto, se aprovado, estabelecerá novas regras para os provedores como Facebook, Twitter e Instagram e serviços de mensagens como o WhatsApp, mas só valendo para serviços com mais de dois milhões de usuários registrados.

Há aspectos a considerar, como a identificação dos usuários, que pode ameaçar a privacidade. O texto estabelece que ela irá ocorrer sob responsabilidade das plataformas apenas em casos suspeitos.

Muitos pontos já são capitulados em lei, mas o texto também estabelece a criação de um Conselho de Transparência e Responsabilidade na Internet, que irá, entre suas atribuições, elaborar um código de conduta sobre como as redes sociais e os serviços de mensagem deverão lidar com demandas que induzam não apenas à desinformação, mas também à violência. A rede mundial tornou-se um terreno fértil para essas duas questões.

Algo precisa ser feito, a fim de garantir o direito de expressão, que não pode, em momento algum, ser confundido com o direito de ofender ou deturpar fatos em nome de uma liberdade na qual a responsabilidade passa longe.

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