Procura-se um vice
Candidatos discutem composições, mas esbarram nos arranjos locais e estaduais, que nem sempre seguem a linha da direção nacional
A campanha presidencial ainda depende de alguns acertos, mas já está nas ruas, especialmente, no campo das negociações. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que deve deixar o partido por não concordar com a vitória do governador João Doria, não esconde a pretensão de ser o candidato a vice na chapa de Lula. Este, por sua vez, não nega e admite tal possibilidade, sobretudo após diversas centrais sindicais, durante sabatina em São Paulo, se mostrarem favoráveis à ideia.
O presidente Jair Bolsonaro busca um vice, já que, definitivamente, o general Hamilton Mourão não será o seu companheiro de chapa em 2022. A relação acabou, e o vice já pensa em disputar o Senado ou o Governo do Rio de Janeiro, não fechando portas para uma eventual candidatura no Rio Grande do Sul. O Centrão, capitaneado pelo ex-deputado Waldemar da Costa Neto – que endossou ontem a ficha de filiação do presidente ao PL -, e os dirigentes do PP, Arthur Lira e o ministro Ciro Nogueira, trabalham para indicar o vice. Se vão conseguir é outra história, pois o presidente estaria assinando de vez sua adesão ao Centrão, que na campanha de 2018 foi alvo de suas críticas.
O caminho do meio ainda tem um cenário incerto. O governador de São Paulo, João Doria, venceu a prévia do PSDB, mas ainda não conta com o coração e a mente de todos os tucanos, especialmente os de Minas e os do Rio Grande do Sul, mas já trocou telefonemas com o ex-ministro Sérgio Moro, eventual candidato à Presidência pelo Podemos. Ficaram de conversar, embora não se saiba a pauta. Algum deles estaria disposto a abrir mão da cabeça de chapa e formar uma dobradinha? A pergunta, hoje, não prospera, mas, parodiando o ex-governador de Minas Magalhães Pinto, a política é como as nuvens, que a cada hora estão num lugar.
A busca do vice se dá de forma precipitada, sobretudo por ser uma moeda a ser utilizada nos acertos finais da campanha. A pressa só se justifica pela preocupação de o processo ser antecipado ante o açodamento dos próprios candidatos. Pelo menos dez lideranças já se apresentaram como postulantes à Presidência, mas a lista pode crescer com o surgimento de nomes oriundos de partidos de menor porte, que só entram no jogo para fazer algum tipo de composição.
Com mais de 30 partidos registrados no TSE, o processo político passa por avanços e recuos em decorrência de fatores regionais e locais. Daí, a dependência mútua dos pré-candidatos. A filiação do presidente Jair Bolsonaro foi o dado mais emblemático. Prevista para a semana passada, só se oficializou nesta terça-feira após serem superadas pendências nos estados, uma vez que o PL tem acordos com governos de oposição ao Planalto.
Essa questão também vale para as composições eleitorais. Os governadores que tentarão a reeleição e os que vão ingressar no jogo ainda não começaram a conversar sobre eventuais vices à espera da deflagração do processo na instância federal, e vice-versa. Os dirigentes partidários não têm controle total sobre suas legendas, pois essas dependem de acordos locais para sobreviver. O MDB é um dos casos mais emblemáticos. A direção nacional tem discursos apartados do que pensam os dirigentes estaduais, e estes, em boa parte dos casos, são opostos ao que defendem os dirigentes municipais. O jogo, pois, só está começando.