Esqueletos urbanos
Juiz de Fora tem várias obras inacabadas, muitas delas estratégicas, sobretudo nas áreas de saúde e mobilidade urbana, sem perspectivas de serem concluídas no curto prazo
Se tudo tivesse corrido como o previsto, Juiz de Fora teria mais dois hospitais públicos – um novo universitário e um regional -, um museu plenamente recuperado e uma rodovia urbana ligando a BR-040 à Avenida Rui Barbosa, na altura do Bairro Democrata. Esses são apenas alguns dos muitos projetos paralisados, transformados em esqueletos urbanos, que causam indignação coletiva, por envolverem recursos públicos, expostos ao tempo e sem qualquer prazo para conclusão.
No levantamento efetuado pelos repórteres Renato Salles e Gabriel Ferreira Borges, apresentado nesta edição, há outros, mas esses são suficientes para apontar como a coisa pública tem sido tratada nas instâncias de poder. Os projetos dos hospitais foram elaborados como saída para suprir a demanda de uma cidade-polo, sistematicamente em curva ascendente pela qualidade dos serviços aqui prestados.
De competência da União, o Hospital Universitário pode receber novos investimentos, mas não há prazo para a sua conclusão. O Regional tem um futuro mais incerto. No primeiro ano de seu mandato, o governador Romeu Zema encontrou o caixa zerado e com várias pendências econômicas, muitas delas ainda não superadas. No entanto, diferentemente de seu antecessor, Fernando Pimentel, que prometeu concluir os hospitais regionais em construção em Minas, não fez promessas. Ao contrário, abriu consulta pública em busca de parceiros para levar os projetos adiante. Sozinho, o Estado não tem recursos nem para as obras nem para o custeio. Os parceiros, por enquanto, não apareceram.
É fato que a pandemia do coronavírus mudou todas as projeções, mas não é possível afastar a discussão de tais projetos da agenda dos candidatos e das candidatas à Prefeitura de Juiz de Fora. A cidade tem vários gargalos que precisam ser resolvidos. A BR-440, por exemplo, vive um efeito sanfona. As obras começam e param e não chegam ao final. Além da incerteza de seu futuro, o atual estágio tornou-se um problema coletivo, pois não se sabe se se trata de uma via para lazer, especialmente na altura da Represa de São Pedro, ou uma de acesso à BR-040. Mais do que isso, a outra ponta, perto do acesso ao Bairro Casablanca, tornou-se um transtorno para a população, que ainda tem restos de obras à sua porta e cones espalhados para orientação dos motoristas que, vira e mexe, se perdem na busca de algum acesso. Com o período das chuvas chegando, a situação tende a se agravar.
O projeto tem um ponto em comum com o Hospital Regional quando se trata de inadimplência: várias empresas já se habilitaram, executaram serviços, mas não chegaram ao final.
Nos vários comentários sobre o que deve ser feito, os candidatos e as candidatas à vaga do prefeito Antônio Almas têm usado o discurso recorrente de buscar recursos em Brasília, cobrando participação dos deputados federais e estaduais. Até agora pouco valeu. Os esqueletos continuam.